Saúde emocional a partir da adoção

A psicóloga Alethéa Vollmer revela condutas que os pais adotivos precisam ter para contribuírem com a formação psíquica da criança

Alethéa Vollmer - Foto divulgação

Qualquer criança, adotiva ou não, desenvolve seu aparelho psicológico estrutural de forma cenestésica, intra-útero e nos primeiros anos de sua vida. A relação de existência básica é o sentir: “não há consciência corporal, nem espacial, nem temporal e menos ainda de “quem sou eu” ou do que chamamos de identidade”, explica a psicóloga Alethéa Vollmer, Mestre em Ciências Criminais com ênfase em Violência, Pré-Doutorada em Sociologia pela USP e Graduada em Psicologia pela UNISINOS, no Rio Grande do Sul.

A especialista, que também atua como Assistente Técnica do Judiciário em Processos, conta que são os climas afetivos relativos às vivências que vão alimentando o psiquismo. Eles podem ser facilitadores ou inibidores. Quanto mais inibidores os climas, maiores os traumas que serão registrados no psiquismo. Os traumas relativos aos climas inibidores podem ser relacionados com abandono, indiferença, rejeição, hostilidade, ansiedade, medo, não-acolhimento etc.

“Em crianças adotivas, sabe-se que o principal clima internalizado será o de abandono, mas outros climas citados anteriormente também podem ser incorporados gerando maiores dificuldades, sobretudo quanto ao seu conceito de identidade. É como nos vemos e como entendemos nossa história que construirá como nos relacionaremos com o mundo. O conceito de identidade é o conjunto de crenças e verdades que o indivíduo tem a respeito de si mesmo, a respeito daqueles que o cercam e sobre como funciona o mundo que vive”, comenta Alethéa.

Referente ao abandono propriamente dito, será necessário tratar a partir das vivências desse sujeito e do que ficou de registro das sensações vividas. Se foi adotado, se ficou muito tempo em abrigos, qual foi o tipo de adoção. Isto acontecerá a partir das condutas com as crianças que viveram algum destes processos. Estas condutas ajudarão na construção do Conceito de Identidade e será a partir disso que o indivíduo terá menos ou mais angústias relacionadas aos traumas vividos.

Cabe ressaltar que todos nós somos formados pelos mesmos climas que geram desenvolvimentos mais saudáveis ou não. No caso de pessoas adotivas, chegar a estes climas é quase impossível já que a criança pequena não tem recordações mnêmicas deste período e por ter sido apartada da família de origem, normalmente desconhece o comportamento da mãe, pai e familiares – aqueles que produziram os primeiros climas afetivos-.

A psicóloga também explica que em casos de adoção, não contar à criança de onde ela veio gera fantasias e produz clima afetivo inibidor, resultando na sensação de que algo está sendo escondido. “E normalmente o que escondemos não traz uma referência positiva”, completa Alethéa.

São muito comuns as expressões: “você é filho do coração que Deus mandou”; “não pense bobagens, o que importa é que somos seus pais e amamos você independente de qualquer coisa”; “o que vale é que você tem saúde e pessoas que amam e cuidam de você”. Porém, o resultado dessa postura refletirá na desconfirmação e desqualificação sistemáticas, produzindo patologias comunicacionais que poderão resultar em casos psiquiátricos graves.

Portanto, a psicóloga alerta que o essencial e necessário será esclarecer que a criança foi adotada. As motivações e como se deu, não são importantes, até porque essa escolha não é da criança e sim de quem optou pela adoção. “Esta conversa talvez faça sentido e precise acontecer mais adiante, quando a criança chegar na adolescência e revisitar sua história, podendo neste momento sair do lugar de passiva que foi adotada e também poder adotar esses pais que a escolheram”, diz a especialista.

Outra postura importante é informar à família e amigos sobre a adoção. Fazer isso, significa poder falar livremente sobre o assunto, sem preocupação, principalmente na frente da criança. Ela fazer parte da história, ela estar incluída, faz com que a situação seja normal, como por exemplo falar que um filho nasceu prematuro e foi para a UTI, o outro de parto normal e o outro de um processo de adoção. Histórias diferentes, que contam do universo particular de cada um e que não precisam ser escondidas.

À medida em que as crianças vão crescendo, suas dúvidas relativas às suas origens aumentam também. E isso não deve ser um problema. Problema será não as responder o mais honestamente possível e não permitir que esses questionamentos apareçam.

Pais adotivos ocupam um lugar muitas vezes de medo. Receio de perder, de que ao contar a história real, machuquem ou traumatizem os filhos. Os pais devem tratar isso em terapia. Se não o fizerem e a comunicação sobre o assunto ficar truncada ou mesmo interditada, o desejo dos pais que é seguir em frente, fará o filho adotivo se voltar ao passado e responder de alguma maneira as questões relativas à sua história de vida. “Novamente cabe lembrar que sem detalhes. Respostas objetivas bastam. Se questionar: eu não nasci da sua barriga? Podem responder que não nasceu porque não podia ter filhos de barriga, por exemplo. Ou: você nasceu da barriga de outra mulher, que não pôde criá-lo e deixou você para ser adotado por quem não tinha filhos, como eu”, finaliza Alethéa.

Sobre Alethéa Vollmer

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