Amar é...



Fonte: Divulgação

Ah! O tema do mundo é, sempre foi lá no fundo, sempre haverá de ser o Amor.

Odes, versos, poemas, músicas, cartas, palavras incomparáveis - todas inexatas - e até mesmo a Ciência procuram desvendar o amor. 

Para uns, apenas uma cadeia de reações químicas, o que pode até não deixar de ser também; para outros, algo transcendental, sobrenatural, espiritual, encontro de almas. Para outros, ainda, o amor não passa de uma falácia. Uma "doença mental", como já descreveram filósofos célebres - e presumivelmente amargurados.

Aqui, estou falando de todos os tipos de amor, como de mãe, pai, filho, amigo, é claro; mas, especialmente, o amor romântico - aquele que é, foi e sempre haverá de ser e que faz o mundo girar. 

Aquele que, mesmo quem nega, não pode deixar de, em um exercício antinatural de renegação, querer. Um grande, verdadeiro, puro amor. 

Sei, sei, há muitas idealizações. O amor perfeito, ou até perto disso, não existe. Nem o perfeitamente sacrificial, não entre humanos, como em "Romeu e Julieta". E acredito que, exatamente por não saber dessa imperfeição que é o amor, muitos deixam seus amores acabarem - não sabem que amar exige dedicação, cuidado, e muitas vezes dá trabalho. Apesar de as recompensas de amar e ser amado(a) serem, sem dúvidas, simplesmente a maior razão que posso imaginar para estarmos neste planeta, tão belo, vivo e ao mesmo tempo cinzento. Sem amor não estamos vivos, apenas respirando.

Eu, eu já desisti de dizer o que é o amor. John Denver tentou em "Perhaps Love" ("Talvez o Amor"), Legião Urbana, os apaixonados italianos, Bryan Adams, Madonna, Elvis, Eric Clapton, os baluartes da MPB como Vinícius, Tom Jobim, Toquinho e João Gilberto, milhares de músicos, poetas, atores, artistas, Shakespeare, Jane Austen, Nora Roberts, Dostoiévski e a leva dos russos da vida nua e crua, Byron e seus seguidores sombrios, mas entorpecidos de sensações de amor; todos tentaram e tentam retratar o amor, seja em forma de paixão ou um amor realmente testado e aprovado pelo tempo e pelas montanhas escaladas. Amor se prova como faca - no fogo, não na acomodação perene.

Mas eu, eu que procuro o amor sempre, porque já descobri que é salvação (e também destruição, se não se souber amar ou se se chamar de amor o que não é), eu já desisti de ter a pretensão de dizer o que é o amor. 

Amor é tão mais que o visível e o explicável, só podemos ver alguns sinais, a pontinha do iceberg. Quem vai descrever o amor da vida real? Aquele que sente certamente poderá tentar, e até conseguir algumas pistas. Porém, o amor da vida real, verdadeiro, puro, âmago da alma e do espírito, e que acredito que existe, mas muita gente não acredita e por isso às vezes o deixam passar, esse amor só pode ser sentido, ainda que com incertezas momentâneas. Incertezas fazem parte da vida. Ou então seríamos deuses. 

Falando em deuses, Deus é amor, Ele mesmo disse. Fomos criados à imagem e semelhança de Deus, a Bíblia Sagrada, inspirada por homens de fé, revelou. Então, somos feitos essencialmente de amor, para amar e ser amado(a)s. Evidentemente, nem todos nós aceitamos ou desenvolvemos essa essência, ou mesmo a recebemos como precisaríamos.

Não sei dizer a você muito sobre o amor, embora tenha me aventurado tanto a escrever sobre ele, e insista nisso, como em meu mais recente livro, totalmente ilustrado por Rubia Fava, Como Amar Demais Em Um Mundo Canalha. Sei apenas questionar, ter lampejos, vicejar, olhar pelo buraco da fechadura de mim. Muita coisa que chamam de amor não é, enquanto que outras, tão simples, passam despercebidas como os melhores exemplos de amor no mundo.

Enfim, acho, só acho, que é impossível ser feliz e ser salvo sem se amar, doar amor e receber amor em troca. Mais ou menos como disse Clarice Lispector sobre o amor, de que tanto falou, especulou, a que tanto tateou na penumbra de sua alma infinita. "Não sei bem quando começou, já era amor antes de ser...". Não é cronológico, não precisa ser, não é substância, não precisa ser, não faz sentido, não precisa fazer. Precisa haver.

Cuidado para não deixar escapar seu grande amor, a começar por amar a si mesmo(a), que só ama quem se ama e tem amor a dar. Regue a planta, não a deixe secar, tampouco se afogar. Difícil saber a medida. Parece-me agora que a vida é a estrada para aprendermos a amar e ser amado(a)s, porque aprender a ser amado(a) também é necessário, tem gente que não sabe como fazer isso, gente que se trancou em uma torre segura, incrédula, até mesmo repleta de menosprezo. Uma firme torre de prepotência ou medo. 

Cuidado para não perder tudo por pouco, para não deixar passar a pessoa certa por procurar a pessoa perfeita. Cuidado para não deixar o amor ir por não ter tido coragem de amar, de se amar, de mudar se necessário, "somando as incompreensões" como disse ela, mais uma vez, Clarice.

Mal sabem aqueles que amam que, às vezes, estão salvando vidas. Literalmente.

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