Era TDAH: tudo pra já, o que ficou para trás?

 

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Já tivemos as eras do gelo, do bronze, ferro, da Antiguidade (grandes impérios), das "trevas" (Alta Idade Média, com a subjugação à Igreja Católica), do Renascimento, da Modernidade e outras. Agora, chamam de Pós-Modernidade, Capitalismo Tardio, Pós-Capitalismo, Era Líquida (BAUMAN), Era Digital, entre outras "alcunhas" de especialistas e nem tão especialistas assim. Que tal pensarmos em "Era TDAH"?

TDAH significa Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade - algo muito comum, e cada vez mais, na época em que vivemos. 

O Mal do Milênio são a ansiedade, a competição, o pânico, consequentemente a frustração e a depressão, a instabilidade, a incerteza, ou a certeza só amparada em uma arrogância e um narcisismo necessários à "sobrevivência" na "selva" implacável e imparável. Eu chamaria nossos tempos de "Era TDAH". Corra, Lola, corra! Para onde? Não pare.

Tudo é para ontem, nada é garantido, até mesmo os objetos não são fabricados para durar, quanto mais os relacionamentos, tudo é relativo - e não, nem tudo é relativo, em contextos específicos. Tudo é pra já. Fast food de pessoas em aplicativos e redes sociais, de nossas vidas, postamos nossos melhores "pratos". Postagens que "viralizam" hoje, amanhã não mais. 

O que agora, hoje, me basta, amanhã não serve. Tudo envelhece rápido, ao passo que a juventude - física e mental - é cada vez mais venerada. (E aqui, coloco uma questão complexa, só uma pincelada, da desvalorização dos nossos idosos, ao contrário do que ocorria antigamente, em que eram sábios e conselheiros experientes). 

Hoje, "Felipes Netos" e outros "adultos" infantilizados e incoerentes, a "nata" da nossa "elite intelectual", é insípida, inconstante, incongruente, e, é claro, hiperativa. E prepotente. Tô generlizando, é claro. Existem, ainda, os "velhos dinossauros" de sempre, supostamente constantemente renovados, com o velho sorriso amarelo, pregando receitas infalíveis para viver segundo Hamlet ou Aristóteles. 

"Tu tá é ficando velha e ranzinza." 

Pode ser também. Vamos "desacelerando" conforme o tempo, e "ressecando", literalmente. Mas, em geral, passamos a valorizar mais as pessoas que amamos e o que realmente importa, evitando o furacão inconsistente da hiperatividade física e mental. Isso quando é possível.

Por exemplo, o mercado de trabalho. Exige "polvos" cada vez mais ativos, que façam várias coisas ao mesmo tempo. Nunca se competiu tanto em todas as áreas, não apenas profissionais. Somos os tais "semideuses" de Fernando Pessoa, "onde é que há gente no mundo?". Narcisismo. Prepotência. "Ódio do bem." Eu sou uma pessoa compreensiva, libertária, mas, se me contrariar, "meto a mão na sua cara" (ou humilho você nas suas telas). E, no Brasil, todo esse estresse quase sempre é muito mal pago, e as pessoas, ranzinas de tanta exploração física e mental sob governos decrépitos.

Desacelerar e contemplar: aproveitar a vida e compreender detalhes que importam 

Livros e conteúdos sobre aproveitar mais os momentos, desacelerar, reparar em pequenas coisas, valorizar o que importa, buscar o equilíbrio, por outro lado, são cada vez mais consumidos. 

É que estamos adoecendo e estamos - tarde - percebendo.  

Queremos - e precisamos, quase sempre - ser mais múltiplos do que podemos, ser vários, agradar a todo mundo ou a muita gente de uma vez só, desagradar e "aguentar o tranco", todo mundo tem razão. Tornamo-nos produtos consumíveis nas redes, precisamos nos destacar, não basta ser eficiente no que se faz, é necessário criar um marketing pessoal cada vez mais exigente. Vamos nos desgastando... a inveja, a decepção, o cansaço nos consomem.

Ao passo em que temos de lidar com uma infinidade de informações todo dia. E aí, em meio a estas, vem o governo querendo dizer o que são "fake news", sem respeitar a liberdade de expressão, ainda mais dado o histórico de corrupção, parcialidade e desmandos da política do Brasil. É cláusula pétrea da Constituição Federal Brasileira poder ser quem se é e se expressar, desde que não seja crime. Se não podemos criticar nossos políticos, que vivem do nosso dinheiro, e eles podem regular o que falamos ou fazemos, nos CENSURAR (essa é a palavra), "que país é este?", como cantará eternamente Renato Russo. Fake news sempre existiram e vão existir, mas dependem muito da interpretação, das lentes de quem vê. Ninguém pode ser dono da verdade em uma democracia!

Mas eu falava em hiperatividade. Sim, tem a ver com a proliferação desenfreada de informações, sem filtros ou filtros tendenciosos. E tem a ver com o fato que já citei - estamos adoecendo, física e mentalmente. Talvez a maioria de nós não perceba. É difícil ver o furacão estando no olho do furacão. Quando percebemos, já estamos no consultório e quase inviabilizados como seres humanos úteis ao sistema. 

Não tenho nenhum conselho a dar sobre tudo isso. Estou pensando. Estou tentando entender. E pode ser que você discorde de muito do que falei, mas que bom poder ter opinião! Tem gente que não tem, só repete a dos outros, sem averiguar os fatos ao menos e deles extrair informações. Tem gente que não está podendo ter opinião, ou é presa e multada, tolhida, ou atacada por uma horda vigilante de internautas. 

Mas talvez eu tenha um conselho... 

Olhe duas vezes algumas coisas e pessoas que só olhava de soslaio. Não deixe o "sistema" adoecer você, tornar você tão maquinal e "prático" como ele. A praticidade é boa, mas não superficialidade nem exaustão mecânicas, em uma nova versão de "Tempos Modernos" de Charles Chaplin.

Cuide-se, sinta-se bem. Seja quem é, mais ativo ou menos ativo, é da personalidade também. Você está suportando quem tem tido de ser, seu trabalho, seus relacionamentos, suas reações, ou precisa mudar antes que certas mudanças sejam inviáveis?

Quais são suas "pedras de Sísifo" (como na lenda grega, todo dia empurrada até o topo do monte para rolar ao chão outra vez), o que paralisa você em meio a tanto esforço e incertezas?

Eu tive uma tendinite séria, ainda tenho, por ter exagerado na digitação. E então, quem não digita com dez mãos não serve. Quem não acompanha a velocidade alucinante das coisas e as pessoas, não deixa que o tempo escorra pelas mãos, não serve. Acho que sou antiga. A gente tem de se adaptar, mas como faz para ter paz e ainda não perder de vista quem a gente é?

Quando você parar, em uma quinta ou sexta-feira à tarde para pensar que se sente esgotado e infeliz, apesar de produtivo (e é ótimo ser produtivo, útil, ativo, mas igualmente descansar), terá sido tarde demais para "ser reprovado" (Mário Quintana)? A "casca dourada e inútil das horas" já terá se incrustado em seu caminho?

Minha hiperatividade agora vai ser esta: sonhar sem parar. E, na medida do possível, tentar tornar realidade aquilo que sonho. Se for rápido demais, não vai dar. Muito devagar, seria quase parar. O equilíbrio é tão pessoal e difícil! Essa hiperatividade de que falo será só na alma, bem no fundo dela, borbulhando nas zonas mais abissais. Em cima, o "oceano" tem de se manter calmo, "respirar". Se passo o tempo todo ajustando as velas do meu barco no mar, não aprecio a paisagem, não encontro as ilhas e nem a mim mesma. Que esta é a jornada: a gente sempre se encontrar e se reencontrar na vida. E viver em paz. Não excluamos a coragem da paz - faz parte da jornada em busca do sossego, ou dos desejados desassossegos. 

Paz, hoje, é artigo raro. E "perder tempo" pode significar ganhar motivos para viver e ser mais feliz e melhor. Você vai mesmo viver doando a maior parte do seu tempo para quem apenas precisa de você, sem pensar no que você precisa?

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