A geração da Era Digital, das redes sociais incessantemente exauridas e exaustivas com as quais editamos a nós mesmos e às nossas vidas; a geração do desempenho máximo, do conhecimento (não necessariamente sabedoria) prolífero, das interações quase infinitas, a maioria delas, ao menos em parte, online; a geração do espetáculo do cotidiano, da ostentação, dos filtros, da prática seca das coisas, das fórmulas prontas para o imemorial existencialismo, até mesmo para o amor; essa geração é também, e talvez sobretudo, a geração dos narcisistas donos da razão, quase sempre agressivos. Ainda que sob o véu de sorrisos bonitos de lentes de contato - erigidos sob um ego de Zeus.
Eles, os agressivos, narcisistas, lacradores e donos da razão, precisam e buscam conformadores de suas “verdades”, notadamente nas redes sociais. Quanto mais likes, compartilhamentos, comentários - e humilhações ou “lições de moral” a quem discorda -, é melhor.
Disse aí um célebre historiador que acabou virando filósofo, com um sobrenome que, com o C no lugar do K inicial do sobrenome, representa bastante sua visão de mundo cética, ateísta e corrosiva - embora por vezes emocionalmente inteligente, e cada um é livre para “crer ou não crer”: não discuta com “eles”, não se rebaixe, tenha uma reação bovina, “huumm”, afaste-se, mantenha-se em seu monte do Olimpo. Somos muitos semideuses de Fernando Pessoa.
Mas desprezar ou se omitir não é sempre o caso para combater a hostilidade e promover a necessária é difícil conscientização, com empatia, no enfrentamento aos agressivos narcisistas e - quase sempre - desprovidos de argumentos eficientes, como ocorre a todo extremista ou simplista.
A agressividade cega paira no Brasil.
Terra convulsionado por extremismos alimentados pelos próprios políticos e seus asseclas. Assim, a sociedade vai ficando cada vez mais rachada, enfraquecida, confusa (mesmo com as lacrações, já que, em geral, simplórias e rasas). As “placas tectônicas” da humanidade se chocam no que se refere a dignidade, compreensão e humildade. “Somos todos irmãos, braços dados ou não” já é passado, agora somos soldados armados contra os errados - os que não concordam conosco.
Quero dizer que, diante das circunstâncias, não concordo com a reação sempre bovina sugerida por K (C), com a fuga sistemática da discussão que pode ser enriquecedora e valiosa e, se não for - porque quase ninguém ouve o que não quer ouvir hoje - terei cumprido minha parte de me posicionar. Desde que sem (intenção de) ódio e preconceitos. Sem recorrer, portanto, ao recolhimento como forma de desprezo (poucas vezes é sabedoria de “passar panos”, infelizmente).
Temos, sim, de nos posicionar, ao menos às vezes. Não apenas “mugir” ou bloquear os agressivos, invejosos, frustrados, psicopáticos e tóxicos. Não ser um deles, não nos misturarmos a eles - não significa fugir sempre.
É, pensando bem, na maioria das vezes não vale a pena falar a quem já acha que sabe e ainda tripudia - com sua horda - de quem tem certeza de que não sabe de nada. Cobrindo-lhes, os discordantes, com rótulos tóxicos.
Mas, lembremos, entre controlar nossa própria agressividade, não assimilando a alheia, sabendo quando (que difícil!) se posicionar (e vem retaliação, sim, quem pensa, ainda mais no Brasil, “paga”):
“Os lugares mais quentes do inferno estão destinados àqueles que, em tempos de crise, se mantiveram neutros” (Dante Alighieri, em “Inferno”).
Acho que haverá muita gente covarde, soberba e “bovina” por lá. Ignorar sumariamente é sempre mais fácil, embora muitas vezes necessário, como acredito que delineei até aqui.
“A palavra branda desvia o furor”, fala o livro de Provérbios na Bíblia Sagrada; não o silêncio ou o ruído que desdenha. Pobres daqueles que terão de cair do pedestal, muito alto, para entender que ninguém é dono absoluto da razão, é tanto brigas ferrenhas como silêncio pétreo não resolvem de fato.
Conscientização é o que resolve. Só que pensar e falar sempre doeu na “manada”. Que acha que não é manada, repetitiva e lobotomizada.
Enquanto eu tiver voz, vou dizer quando achar que tiver de dizer, ainda qu caem ser ouvida - talvez, em mil, um me escute e valeu a pena. E vou dizer de várias formas. Principalmente, Deus queira, com minhas atitudes. Que é o que muito falta hoje em dia - tantos senhores das palavras, mas escravos da insensatez e da hipocrisia.
E eu e você sempre corremos o risco de estar nessa.
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