"O que se esconde do sol", livro dá voz a mulheres muitas vezes silenciadas

Anne Mahin - Foto divulgação
A escritora Anne Mahin conta histórias de mulheres reais com seus dilemas e frustrações

Zenaide, Regina, Greice, Karla, Adélia são algumas das mulheres que contam suas histórias no livro "O que se esconde do Sol" (Editora Chiado - 2019), de Anne Mahin. A obra reúne 17 contos sobre mulheres, baseados em histórias reais, com personagens de diferentes idades e personalidades. "O que se esconde do sol" é um convite à reflexão com enredos contextualizados nas décadas de 1970, 1980 e 1990, marcadas por uma época do analógico e desprovidas de tecnologias digitais como a internet e os smartphones.

Todos os contos são histórias que aconteceram com mulheres em diversas realidades, narrados sem se apegar a estereótipos e preconceitos que cercam o gênero feminino. Os contos foram surgindo a partir de relatos que a escritora ouvia e foi reunindo até chegar no formato do livro, que passeia pela morte, pelo amor, a saudade, o ciúmes, a loucura e todas as escolhas erradas e certas que podem atravessar a vida de uma mulher.

"Por acaso, sem que inicialmente eu tenha me apercebido, os meus três primeiros contos foram baseados em histórias que de fato aconteceram comigo ou com alguém muito próximo a mim. É o caso de "Um guabiju e a raiz do ciúme – Stefânia" (sobre o desespero de uma mãe ao não encontrar a filha). E, nos três, coincidentemente, as mulheres eram protagonistas. Daí a ideia do subtítulo com o nome de cada uma. Depois foi uma consequência quase natural seguir por esse caminho", explica Anne Mahin.

Apesar dos relatos verdadeiros, Anne Mahin trabalha a literatura com contos envolventes em um amálgama de fatos e ficção. Tratando de temas complexos como a violência contra a mulher e a solidão até temas mais cotidianos como os conflitos de relações entre amigas, mãe e filha, avó e neta, questões pouco retratadas pela literatura, ainda majoritariamente masculina.

"Há os que emocionam pelo trágico e os que divertem pelas situações hilárias ou bizarras. É o que posso afirmar tendo como base as mensagens que recebo de leitores de várias regiões do país. Esse retorno, aliás, é muito importante e funciona como um grande incentivo para eu continuar criando", diz Anne Mahin, que confessa que uma das histórias que mais a assombra é "Post Mortem – Adélia" (sobre  uma avó e sua neta que saem para conhecer o mar), pelo motivo de o caso, até hoje, não ter tido uma resolução.

Ficha técnica
Título: O que se esconde do sol
Autora: Anne Mahin
Editora: Chiado
Páginas: 180
Preço: R$ 33,00

Trecho

"Fui até minha tia, que me recebeu como se eu morasse ali a minha vida toda. Não havia emoção, entusiasmo. Muito menos conversa. Esboçava um sorriso curto, nitidamente forçado. O olhar era perdido, triste. Nas mãos, segurava com carinho uma sacolinha branca de algodão, já encardida pelo tempo. Observei seu rosto enrugado, os cabelos brancos. Diante daquela figura – uma senhora cuja existência havia sido desperdiçada por obra da prepotência e arrogância do meu avô, pai dela –, tentei mostrar normalidade..."
(Conto: "Amarga Esperança – Zenaide", pág. 13)

Sobre a autora

Anne Mahin nasceu em Cambuquira, MG. Seus textos já foram publicados em jornais, coletâneas e revistas literárias no Brasil e em Portugal. Graduada em Pedagogia e Letras, com especialização em Literatura, lecionou, durante dez anos, nos ensinos fundamental, médio, superior e em cursos pré-vestibulares. Analista II do Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo, Anne reside no balneário de Guarapari (Espirito Santo) há 36 anos, tendo sido agraciada com os títulos de Cidadã Guarapariense, em 2004, e Espírito-santense, em 2019. Mantém no Facebook a página Anne Mahin – prosa e verso. É membro da Academia Contemporânea de Letras, SP, e da Academia Guarapariense de Letras e Artes.

Pela Chiado Editora, publicou os livros "Asas do silêncio" (poemas e prosa póetica, 2018) e "O que se esconde do sol" (contos, 2019). "Amarelo do ipê", seu próximo livro de poesias, encontra-se em fase de revisão. Com o compositor paulistano Jorge Orlando Gomes, que já musicou alguns de seus poemas, firmou parceira para o lançamento de um CD. Ainda em 2020 integrará coletâneas a serem lançadas em Moçambique e na Suíça.

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