Apenas um quadro? Não venda seus sonhos...

                


Autorretrato de Van Gogh. 
Fonte: revista Superinteressante.

                Vincent Willem Van Gogh, para muitos, é o maior pintor que já existiu. Seus quadros têm um estilo único, reconhecido em qualquer lugar  do mundo: as pinceladas coloridas que retratavam belas paisagens rurais holandesas – local onde o artista nasceu - e de países próximos, além de retratos, autorretratos e outros temas. Van Gogh viveu apenas 37 anos vagando por aí buscando seu lugar no mundo. Seu estilo pode ser definido como pós-impressionista (para muitos impressionista, eu chamaria de "estilo Van Gogh", ele é único).

Provavelmente você já ouviu falar nesse genial artista holandês e suas histórias: cortou a própria orelha, comeu tinta amarela tóxica, era louco... Verdade, era conhecido como "Louco Ruivo". No fim, Van Gogh deixou um legado de cerca de 900 pinturas, 1.600 desenhos e esboços em apenas 10 anos – entre 1880 e 1890. Ele começou a desenhar apenas com 27 anos e a pintar aos 28, de forma autodidata como só os gênios são capazes. 


Van Gogh deu início à sua brilhante carreira artística graças a seu irmão mais novo, Theo. Antes disso, fracassou em tudo o que fez: negociante de arte, vendedor de livraria, professor e até pastor. Van Gogh ainda sofria desde cedo com distúrbios psicológicos que mesmo hoje os especialistas não sabem diagnosticar com precisão. E sabe o que mais? Hoje, um quadro de Van Gogh chega a valer quase 100 milhões de dólares. Em vida, Vincent Van Gogh vendeu apenas um quadro: “A vinha encarnada”, por meros 400 francos, na Bélgica.


Quadro "Noite estrelada". 
Fonte: Elo7.


Teve uma vida triste, com depressão, alucinações, esquizofrenia, sífilis e epilepsia – as teorias divergem, mas o fato é que Van Gogh fez o extraordinário. Uma de suas obras mais famosas, “Noite estrelada”, foi concebida em 1888 em um manicômio em Saint-Remy-de-Provence, na França. Aquela noite imemorial tem pinceladas de solidão, abandono e loucura.


Infelizmente, após deixar seu legado, sempre incentivado por seu irmão Theo, Van Gogh não resistiu mais à sua própria luta contra a dor: tirou a vida com um tiro de revólver Lefaucheux 7mm em seu peito em 27 de julho de 1890. Mais ou menos um ano ates, retornara à Casa Amarela. Amarelo parece ser sua cor preferida, a cor da alegria, quando foi um homem de vida trágica. Após o retorno, pautando o caminho para um fim terrível, Van Gogh alternava-se entre sua residência e o hospital, com delírios de envenenamento e alucinações. 


Hoje, há o Museu Van Gogh, em Amsterdã, inaugurado em 1973, que guarda seu legado; mas seus quadros estão espalhados por todo o mundo, em museus gigantescos como o Museu de Arte-Moderna em Nova York, que dedica uma ala apenas ao “Louco Ruivo”, e o Metropolitan Museum of Art de Nova York. 


Van Gogh foi um homem triste, perturbado, cujo maior prazer na vida, além de pintar, era se dedicar a inúmeras prostitutas, que só vendeu um quadro na vida e “não deu certo em nada”. Fez um autorretrato para seu médico, que não gostou e o utilizou para consertar um galinheiro (!). 


Veja, é fácil pintar belezas e cores vivas e campos floridos quando se tem alegria, mas extrair toda essa beleza refulgente da mais funda dor é algo que acho que jamais artista algum fará, não como fez Van Gogh: enquanto pintava girassóis, dálias negras se enraizavam em seus lençóis.


Van Gogh teve muitos problemas mentais, foi pobre e chamado de louco - e foi louco, em partes -, só vendeu um quadro na vida e perambulou por uma existência vaga. Hoje, quem não conhece Van Gogh? Não quero aqui focar o post mortem, ser reconhecido apenas após a morte, como ocorre com muitos. Quero dizer o contrário: não nos contentemos com “vender apenas um quadro”, ou nos dedicar a outras coisas – como Van Gogh fez, e fracassou – que não sejam nosso talento nato. 



"Oliveiras com sol amarelo".
Fonte: Magazine Luiza.


Você sabe qual, ou quais são os seus talentos? Seu propósito de vida? Você não é obrigado a ser pobre em nenhum ramo profissional, ainda que a arte, em particular, exija muita luta do artista para se tornar reconhecido na maioria das vezes. 


É claro que existem percalços para todo mundo, e as coisas não acontecem quase nunca da noite para o dia. Mas não se contente em vender apenas um quadro. Não se abale por ser chamado de louca(o), por não ter recursos financeiros, por enfrentar problemas psicológicos. Van Gogh foi expulso de casa. Andou pelo mundo pintando a beleza do mundo, porque, independentemente de sua dor, sempre buscou a beleza. 


Busque a beleza da vida dentro de você mesmo e a transmita de várias formas a outras pessoas – muitas delas estão precisando, ainda mais nesses tempos cinzentos de Covid, guerras, ódio e preconceitos. Quem faz outros felizes torna sua vida mais alegre, acaba por ser mais feliz, ou menos triste. 


Não se detenha nas dificuldades! Quem sabe, se Van Gogh tivesse insistido um pouco mais, teria vendido 100, 1.000 quadros... Porque seus quadros eram belos. A dor cria coisas bonitas, grande mistério da vida.  


Não deixe que aqueles que não enxergam ou desprezam o valor do que você faz roubem seus “quadros” e sua fé. Ninguém tem o direito de apagar seu sol amarelo.

 

Comentários

  1. Parabéns, Leila, amei essa matéria!! Vincent Van Gogh de fato foi um grande artista, um dos maiores pintores que já existiu. Um ser humano que teve uma vida curta e lamentavelmente triste, onde viveu pintando os seus sonhos ainda que cheio de frustrações, deixou a sua marca registrada em cada pincelada. Não conseguiu vender os seus sonhos na época, mas deixou um legado, sua história marcante e que nos vale muito uma riquíssima reflexão ao viajar no tempo e lembrar o que foi a vida de Vincent Van Gogh. Beijos

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