Nossos vazios: liberdade é pouco, o que eu desejo não tem nome

 Temos mais liberdade e alternativas do que jamais tivemos, mas por que temos mais depressão, suicídios e ansiedade generalizada?


Nossa sociedade vem sendo chamada de Pós-Modernidade, Modernidade Líquida, Capitalismo Tardio, Era Digital ou Sociedade do Desempenho e do Cansaço entre outros. E como funcionam as engrenagens dessa sociedade, entronizada na tecnologia das redes da Internet?

Algumas características positivas são a grande prestatividade, utilidade das tecnologias em variados campos, e a queda de barreiras geográficas, conectando pessoas do mundo inteiro – para o bem ou para o mal, nesse caso, como forma de aproximar contatos necessários ou desejáveis, formando comunidades e expandindo negócios. É a era da sociedade de consumo que põe os dois pés no marketing 4.0, o marketing digital que trata cada pessoa como única e procura a identificação do público-alvo com sua marca, mais que apenas “empurrar produtos”.

E as características negativas? Se Georg Simmel e o Conde de Saint-Saimon, ferrenhos críticos do desenvolvimento tecnológico (o primeiro, no século XIX e início do XX, o segundo, nos séculos XVIII e XIX), estivessem vivos, talvez enlouqueceriam! Ao menos é assim que vejo. Muitas teorias e manifestações têm surgido para, além de engrandecer nossa época tão desenvolvida e ativa (para o bem e para o mal).

Por outro lado, como “sequelas” negativas de nossa sociedade, podemos citar o aumento dos casos de depressão, suicídio, ansiedade – a indústria farmacêutica e os psiquiatras agradecem – e o narcisismo e egocentrismo que tornam a personalidade doentia, afogada em si mesma. Estamos “estourando” de tanta informação e escolhas, e esvaziados por esgotamento, confusão mental e sensação de fracasso.

É uma corrida veloz do Dick Vigarista – lembram o desenho? Pior é que o Dick Vigarista, além da nossa sociedade e das pessoas que dela fazem parte, absorvendo-a e alimentando-a, somos nós mesmos. Por isso, como afirma o sociólogo Byong Chul-Han (2019), somos a Sociedade do Desempenho e do Cansaço, extremamente ativa, competitiva e positiva ao ponto de se tornar negativa. As frustrações se acumulam rápida e bruscamente, vivemos em comparação com o outro, que não tem um lugar e uma estabilidade suficiente, como nós mesmos não temos em grande parte dos casos. 

Estamos exauridos do exterior e do nosso próprio interior.

Voltamos a ser Charles Chaplin em “Tempos Modernos”, só que os movimentos se dos operários se ampliaram de forma incrível e as máquinas são muito mais desenvolvidas. Elas fazem o trabalho humano tantas vezes, mas sempre necessitando da programação, do monitoramento e da interferência humanas. Máquinas podem falhar, como seres humanos, seus autores. A falha da máquina, muitas vezes, vem de quem as criou.

Mas eu falo de vazios, no título do artigo. Nunca fomos tão livres e repletos de possibilidades e informação – falsas e verdadeiras – e ao mesmo tempo nunca houve tantos problemas psicológicos e o afastamento de laços pessoais. 

Você pode dizer: “Ah, é porque não eram documentados antigamente”, mas como é que as pessoas conseguiriam ao menos suportar a vida antigamente com os graves casos de ansiedade, depressão e megalomania de hoje? A única saída seria enlouquecer, ou então acabar com a própria vida.

Nunca estivemos tão cheios e tão vazios ao mesmo tempo. O que temos não nos preenche, o que queremos, não necessitamos, vivemos uma liberdade coercitiva. Clarice Lispector compreendeu, ao menos em um sentido que percebo, esse paradoxo: “Liberdade é pouco; o que eu desejo não tem nome”. É que liberdade realmente é pouco, no sentido em que a conhecemos em geral.

Tanto a falta de liberdade como o excesso são prejudiciais a você e a mim, criando buracos negros que não são preenchidos com liberdade, tampouco com a coerção panóptica social descrita por Foucault, esta, hoje desabando aos nossos olhos: escola, igreja, família tradicional e outros controles que, se maléficos, davam alguma estabilidade aos indivíduos bem atrelados às engrenagens de chumbo.

Vamos buscar a verdadeira liberdade: a paz interior e em relação ao mundo. Não que não haja frequentemente atritos, mas, hoje, estou convencida de que o que buscamos, a saber, a verdadeira liberdade, que não tem nome, como disse Clarice, pode ser chamada – entre outras coisas – de paz, amor. Amor a si mesmo, sem narcisismo, e ao próximo. Mas ainda faltará uma conexão espiritual com o que é maior que nossas limitações.

Somos, a meu entender, “máquinas” com coração criadas por um Ser Superior. Impossível tudo se engrenar sozinho, com a desculpa de bilhões de anos. Tudo se deteriora com o tempo. Assim, Ele criou e Ele nos conhece. Mas isso não isenta nossa autorresponsabilidade. No entanto, é um alento. A fé.

Se eu tivesse uma pequena receita de bolo para tapar vazios, mesmo parcialmente, seria esta: paz, amor e fé. Para isso, preciso desacelerar e me comparar ao melhor de mim mesma em primeiro lugar. Preciso me reconstruir com frequência, já que as coisas de desconstroem rapidamente em meu exterior, e o que era base para a vida, cartilha de como viver, esvanece a cada dia.


*Saiba como publicar, anunciar ou divulgar na próxima edição da revista Projeto AutoEstima, com dicas sobre saúde, beleza, gastronomia, estética, cultura, moda, maquiagem, esporte, literatura e bem estar.

Mídia Kit: http://www.fabricadeebooks.com.br/midia_kit_autoestima.pdf

Escreva para: elenir@cranik.com - c/ Elenir Alves

Facebook: Projeto AutoEstima: www.facebook.com/projetoautoestima

Instagram: www.instagram.com/revistaprojetoautoestima

Comentários