Do avesso

Fonte: Divulgação
 

O Brasil, epicentro da pandemia e das disputas políticas extremistas no mundo hoje, mergulha em grave crise econômica, cultural e social que nos vira a (quase todos) do avesso e testa nossa resiliência


Existem várias pesquisas declarando que os psiquiatras - mesmo a distância - andam mais ocupados: casos de depressão, ansiedade e até estresse pós-traumático aumentaram devido à pandemia de Covid: as pessoas estão com medo, com raiva, confusas, agressivas, algumas destruídas, do avesso, no Brasil. Aqui é o epicentro do caos mundial hoje.

Por mais que você negue, ou queira relevar, ou seja mais forte do que a maioria, talvez tenha melhores condições de vida no momento - econômicas, inclusive - o Brasil em geral está do avesso. Em uma crise tão grande como a do Covid em nosso território e no mundo, é inevitável que esteja tudo, e estejam todos, um pouco do avesso. 

Enquanto o mundo se recupera de forma lenta do Covid, o Brasil respira por aparelhos na UTI. Agora, parece que foi ultrapassado em óbitos diários, que chegaram a quase 4 mil, pela Índia - porém, tem de ser levado em conta o fato de que esse país é muito mais populoso do que o Brasil, portanto, a proporção de mortes é menor que aqui.

Sei que você já está cansada(o) de ouvir falar nos aspectos devastadores da pandemia, psicológicos, econômicos e sociais. Mas, enquanto atravessarmos esse "inferno", precisamos falar nisso. Precisamos aprender a lidar com o mal que nos abate, com a tristeza, o isolamento, as perdas, as ameaças. As intermináveis discussões sobre o cenário político nacional, e até internacional. 

Estamos, no Brasil, vivendo os extremos: Esquerda e Direita, negros e brancos, ricos e pobres, índios - e muito tem se falado da questão da negligência da Amazônia, que sempre existiu, e talvez esteja pior agora, mas colocaram um CAPS LOCK em vários temas devido ao fato de a crise ter nos despertado, políticos e seu berço, o povo, a essas mazelas. O que ocorre é que agora as brigas parecem mais ferrenhas, notadamente nas redes sociais, onde não se tem o olho no olho e a exposição pública visível.

O Brasil está do avesso pelo Covid e, não somente pela doença propriamente dita, mas pelo estado psicológico de grande parte de sua população. Pelos desgovernos. Os velhos desvios de dinheiro e de verdades. Respiradores encontrados escondidos em paredes e no mato? Oxigênio que vaza e mata várias pessoas no hospital? Falta de equipamentos médicos, leitos, tudo isso sempre houve no Brasil, o vírus chinês só nos veio berrar nos ouvidos o país negligente que sempre fomos, sem nenhuma estrutura de saúde e com uma população que, convenhamos, nunca foi afeita a seguir regras, como as relativas a higienização e aglomeração. Tudo isso o Covid esfrega na nossa cara.  

Escolhemos, para começar, uma vacina que se mostrou ineficaz, pois, mesmo sendo um dos país com maior índice de vacinados, os óbitos diários não param de subir: a coronavac, comemorada por muita gente, trazida do próprio país do vírus. 

Enfim, na prática, agora temos outras alternativas de vacinas, melhores que duas doses com 50% de eficácia cada uma, e com a segurança de não vir do país sobre o qual pairam muitas teorias da conspiração sobre a criação do coronavírus, uma ditadura comunista sedenta pelo primeiro lugar no pódio da economia mundial - estiveram lá, não sei se ainda estão. O Covid foi bom para a economia chinesa, ótimo. 

Bem, não quero me alongar e nem falar em teorias conspiratórias. Expus fatos. O derradeiro é que hoje, como outros dias foram, é mais um dia de medo, tristeza, certa ira - me envergonho desta - e desânimo. Ainda há a pequena rosa de Hiroshima, que se balança de forma suave com um sopro de vida. O sopro de vida que nomeia uma das obras de Clarice Lispector. 

Hoje me sinto, mais uma vez, meio do avesso. Inevitável. Busco minhas forças no trabalho, nos bons relacionamentos pessoais, na paz interior e em Deus - aconselho-a(o) a fazer o mesmo. Não podemos mudar o mundo, mas é bom começar cuidando de nós mesmos e do nosso jardim.

É com uma frase de Clarice Lispector (muita coisa é erroneamente atribuída a ela na Internet, ou totalmente deturpadas) que termino meu lamento necessário, que é um grito de esperança: "(...) me ultrapassarei em ondas, ah, Deus, e que tudo venha e caia sobre mim, até a incompreensão de mim mesma em certos momentos brancos porque basta me cumprir e então nada impedirá meu caminho até a morte-sem-medo, de qualquer luta ou descanso me levantarei forte e bela como um cavalo novo." (Perto do coração selvagem, seu livro de estreia, escrito com tenros 22 anos).

Até mais! Use máscara, lave as mãos e seja forte, um dia vai ter valido a pena.



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