Paz de espírito: o grande "diamante" dos tempos atuais

 

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Hoje, nosso bem mais precioso (além do conhecimento) é a paz de espírito

Aprendi bastante sobre a época em que estamos vivendo - mais ou menos desde os anos 2000, com a "invasão" global da Internet e, em especial, das redes sociais - no meu Mestrado em Comunicação Social na PUCRS. Percebi que estamos vivendo a Pós-Modernidade (para a maioria dos autores), a Modernidade Líquida (Bauman), o capitalismo tardio (Mandel), a hipermodernidade (Lipovetsky), o pós-capitalismo (Mason) etc. A base é a mesma, em linhas gerais: tempos em que as estruturas sociais fundamentais estão ruindo, como religiosidade, padrões de vida, educação rígida, família tradicional, absolutismos, entre outras. 

Estamos dando lugar à Era Digital, Era da Informação, Era da Imagem, à fluidez, fugacidade, instabilidade, dinamismo, excesso de informação, consumismo exacerbado, necessidade de desempenho máximo de pessoas e empresas... Gerando o que Chul-Han chama de "a sociedade do cansaço", e Lipovetsky, "a sociedade da decepção". A tecnologia e a evolução (ou involução?) social são facas de dois gumes. Guerra e (possibilidade de) paz - de espírito.

Guerra performance x saúde física e mental

Então, temos uma realidade paradoxal: a sociedade da performance, da maximização, da eficiência (e, para os mais cansados, do f***-se), necessita, chama e exarceba uma necessidade de cuidarmos mais de nosso equilíbrio físico e mental - nossa saúde visível e invisível. Neste cenário, temos a busca da paz de espírito, na forma de várias alternativas: atenção à meditação, às epidemias de ansiedade, depressão e pânico, que desembocam muitas vezes em doenças físicas concretas, como problemas cardiovasculares, AVCs, úlceras, gastrites, labirintite, problemas dentários, de coluna, saber lidar com a pandemia de Covid, perdas e ameaças. 

A atenção à problemática da paz de espírito, do equilíbrio mental e não apenas físico, se deu com a ajuda da pandemia de Covid: os casos de doenças mentais e emocionais aumentaram substancialmente, assim como de vícios tapa-buracos como álcool, remédios e drogas ilícitas. Infartos e AVCs, e outros problemas de saúde, são consequências do que vou chamar de "pandemia do medo". Ainda que seja o medo de "ficar para trás" e não ser aplaudido ou no mínimo aceito. 

Muitos autores nos dizem para "vencer o medo", embora ele seja também um alarme ancestral necessário de proteção, quando "bem calibrado", e apesar da quase "obrigação" de corrermos riscos se quisermos coisas grandes, em uma sociedade tão competitiva e dinâmica. 

Mas, agora, talvez seja o momento de pensarmos no medo, e no direito que temos de senti-lo, como forma de dor, de raiva, de vazio existencial, de solidão, mesmo de autonegação. A pandemia afetou a todos nós, e ela foi apenas a grande "cereja" (amarga) de um bolo que parece poder desmoronar a qualquer momento, alto como nossos arranha-céus, torto como a torre de Pisa, instável, múltiplo, complexo, contraditório em suas camadas. 

Hoje, não depender de remédios para a cabeça, não ter vícios e levar uma vida física e mentalmente saudável, é praticamente um privilégio. Sem falar nos tratamentos para doenças advindas de males psicológicos, dos quais não cuidamos a tempo. 

Ter paz de espírito é um privilégio. E ele começa com ter tempo para si mesmo e para refletir.

Em busca da paz de espírito

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Mas o que é, afinal, o "diamante" raro que tanto procuramos, mesmo sem saber? A paz de espírito. 

Não é o comodismo. Não é a zona de conforto. Não é a minimização dos males, não é a ignorância, não é a fuga dos problemas, de si mesmo, não é apenas fazer meditação e pilates, não é apenas ter uma religião, embora ter uma fé ajude muito. 

Paz de espírito tem "espírito" na expressão, e, como bem citou a autora best-seller Brené Brown, hoje em dia vivemos uma "desconexão espiritual" que vai muito além das nossas crenças pessoais: o afastamento daquilo que temos de mais essencial como espécie humana, dentro de cada um de nós, e que nos une, ou deveria nos unir, nos fazer reconhecer e inspirar no outro, o acolher e ser acolhido. 

Vivemos uma "desespiritualização" que não nos é intrínseca, ainda que você seja um admirador nato de Nietzsche, Schopenhauer e outros filósofos negacionistas. A dimensão espiritual é real. Somos seres materiais, mas também sociais e espirituais, sendo a espiritualidade o íntimo de nossos sentimentos, e, enfim, o íntimo de quem somos, nosso "coração".

Quero convidar você a pensar sobre sua saúde mental, sua paz (de espírito), suas inquietudes existenciais (vamos enfrentá-las? com toda a paciência que merecemos dar a nós mesmos?). Não adianta estar deitado na areia da praia deserta com o coração acelerado de tensão. A cabeça no trabalho que não termina. Sim, temos de pensar na vida, nos que amamaos, na epidemia e nos precaver, mas precisamos de paz de espírito para viver e não apenas existir.

Pessoalmente, acredito nas já comprovadas evidências dos benefícios da fé em um ou mais entes superiores, no sobrenatural, em algo que nos tire um pouco o peso dos ombros - mas não a responsabilidade do livre-arbítrio. Estamos perdendo a fé no mundo, nas pessoas, em nós mesmos - e não que não tenhamos motivos para isso. Estamos em uma corrida cada vez mais ensandecida, com muitos "Dicks Vigaristas" (às vezes nós somos um deles, mesmo que por instinto de sobrevivência).

Não sou nenhum exemplo de "aquela que atingiu o topo da montanha da paz de espírito". Estou buscando-a, como você, ainda que não saiba disso. Eu sei. E tenho batalhado por ela. Atitudes práticas como se libertar de vícios, relacionamentos saudáveis na medida do possível, exercícios físicos, meditação e até alguma medicação podem ajudar, como a fé, mas o caminho é bem mais "do lado de dentro" de cada um de nós. O caminho é singular para cada um de nós, uma jornada no deserto, cíclica, contínua, diária.

Não se deixe perder a saúde e a paz para não perder um desempenho um pouco melhor no trabalho, em um relacionamento, não deixe que eles digam o que você deve fazer o tempo inteiro, não se deixe esgotar rápido! 

Priorize-se. Talvez essa seja a paz de espírito: "Eu me amo, me cuido e me valorizo em primeiro lugar, e darei aos outros o que tenho de melhor".

Bom final de semana!



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