A evolução do estresse

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 No passado, o mecanismo do estresse foi desenvolvido em nossos ancestrais e em outros animais para possibilitar a sobrevivência diante dos perigos concretos (animais ferozes, guerras tribais e catástrofes ambientais) e a luta pela vida (busca por alimento e espaço geográfico).

No ser humano de hoje, ou seja, em nós, apesar dessas ameaças concretas não mais existirem do mesmo modo como antigamente, esse mecanismo continuou existindo, e então, persistiu em nossa biologia a capacidade de reagirmos ansiosamente diante das ameaças.

Com o passar do tempo e com a civilização do ser humano, outros perigos surgiram e substituíram o lugar daqueles que estressavam nossos ancestrais.

Hoje em dia, dentre as inúmeras ameaças abstratas e reais às quais tememos estão: a competitividade, a segurança social, a capacidade profissional e a sobrevivência econômica. O que comprova que tudo isso passou a representar a mesma ameaça que as antigas questões de pura sobrevivência, as quais ameaçavam nossos ancestrais.

Se na antiguidade os perigos eram concretos e nossos ancestrais tinham conhecimento do objeto a combater, localizável no tempo e no espaço, atualmente esse objeto de perigo vive dentro de nós. As ameaças são abstratas, porém muito agressivas, afinal elas vivem, dormem e acordam conosco.

Ballone (2008) descreve e compara:

 

Em épocas primitivas o coração palpitava, a respiração ofegava e a pele transpirava diante de um animal feroz a nos atacar, se ficávamos estressados diante da invasão de uma tribo inimiga, hoje em dia nosso coração bate mais forte diante do desemprego, dos preços altos, das dificuldades para educação dos filhos, das perspectivas de um futuro sombrio, dos muitos compromissos econômicos e assim por diante.

 Como podemos perceber, hoje nossa ansiedade é continuada e crônica. Se antigamente a adrenalina aumentava só de vez em quando, hoje ela aumenta quase que todos os dias. A ansiedade, o estresse e o esgotamento são termos de uso comum na vida moderna e, devido à grande frequência com que é usado em nosso discurso cotidiano, ninguém aceita pensar neles como formas de algum transtorno emocional.

A ansiedade seria uma atitude normal e global do organismo, então fisiológica, responsável por sua adaptação a alguma situação nova e atual.

Até mesmo o ato de acordar e levantar exige do organismo um pequeno grau de ansiedade necessário para se adaptar à nova situação: antes dormindo, depois acordado e, agora, levantado. Pode-se concluir então que esse leve grau de ansiedade é comum e indispensável.

Já em outros momentos do dia-a-dia é preciso um grau de ansiedade maior. Diante de episódios novos, às vezes perigosos, o desempenho físico pode atuar de forma incrível e realizar coisas que não seria possível fazer em episódios mais calmos. Se não existisse esse mecanismo que coloca as pessoas em posição de alerta, provavelmente a espécie humana nem teria sobrevivido às adversidades encontradas por seus ancestrais.

No entanto, embora a ansiedade beneficie o desempenho e a adaptação do indivíduo às circunstâncias, ela o faz somente até determinado nível, até o nível onde o organismo atinja um máximo de eficiência. A partir desse nível máximo de adaptação a ansiedade, acarretará completamente o contrário, poderá resultar na falência da capacidade adaptativa. A partir desse nível crítico, a ansiedade será tanta que não mais beneficiará a adaptação, causando então o esgotamento da capacidade adaptativa.

“Quando acontece um aumento da adaptação proporcional ao aumento da ansiedade até um ponto máximo, com plena capacidade adaptativa, o desempenho ou adaptação cai vertiginosamente. Aí se caracteriza o que chamamos de esgotamento da capacidade adaptativa.” (BALLONE, 2008)

Cientificamente, a ansiedade é o mesmo que estresse. Ao provar a ansiedade exagerada ou patológica o organismo estaria provando o estresse.

Em medicina entende-se o estresse como uma ocorrência fisiológica global, tanto do ponto de vista físico quanto do ponto de vista emocional. As primeiras pesquisas médicas sobre o estresse estudaram toda uma constelação de alterações orgânicas produzidas no organismo diante de uma situação de agressão.

Fisicamente, o estresse aparece quando o organismo é submetido a uma nova situação, como uma cirurgia ou uma infecção, por exemplo, ou, do ponto de vista psicoemocional, quando há uma situação percebida como de ameaça. De qualquer forma, trata-se de um organismo submetido a uma situação nova (física ou psíquica), pela qual ele terá de lutar e adaptar-se, consequentemente, terá de superar. Portanto, o estresse é um mecanismo indispensável para a manutenção da adaptação à vida, fundamental, pois, à sobrevivência.

Até é possível acostumar-se com o estresse durante algum tempo. É a chamada fase de resistência, que se caracteriza pela hiperatividade da glândula suprarrenal sob influência do SNC através do Diencéfalo, Hipotálamo e Hipófise. É uma fase que surge quando persiste a ação do estímulo estressor e, nesse período, há um aumento no volume da suprarrenal, concomitante a uma atrofia do baço e das estruturas linfáticas e um continuado aumento dos glóbulos brancos do sangue (leucocitose).

Se os estímulos estressores continuam tornando-se crônicos e repetitivos, a resposta começa a diminuir de intensidade e pode haver uma antecipação das respostas. É como se o organismo se acostumasse com os estressores.

Ballone (2009) apresenta um exemplo:

 

Vamos imaginar, hipoteticamente, uma pessoa que se deparasse com uma cobra no meio de sua sala, quase todas as vezes que entrasse em casa. Com o tempo a sua reação ao ver a mesma cobra tende a diminuir, embora ainda continue tomando muito cuidado. Mas, vai chegar um momento em que, mesmo não vendo a cobra, ficará estressado diante da simples possibilidade de encontrá-la. Talvez tenha grande ansiedade ao imaginar onde poderia estar hoje a tal cobra.

 E finaliza lembrando: “Diz um ditado que a diferença entre medo e ansiedade é exatamente essa: medo é encontrar uma cobra dentro do quarto, e ansiedade é saber que deve ter uma cobra dentro do quarto.” (BALLONE, 2009)

Como se supõe, a resistência do organismo não é ilimitada. As alterações biológicas que surgem nessa fase se assemelham com aquelas da reação de alarme em sua etapa de choque, mas, ao contrário desta, no esgotamento o organismo já não consegue equilibrar-se por si só e sobrevém a falência adaptativa.


Referências Bibliográficas

BALLONE, Geraldo. Estresse, ansiedade e esgotamento. Jan. 2009. Disponível em: <http://www.cerebromente.org.br/n11/doencas/estresse.htm>.

 


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