A grande sombra da morte

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Não é um assunto exatamente palatável. Mas gosto de refletir sobre o que acho importante na vida. E um destes assuntos é seu oposto, a morte.

Conforme a vida vai passando, e nós e quem nos cerca vamos envelhecendo, começamos a perder mais e mais pessoas. Não necessariamente na "ordem natural" de mais idade... É fato que a morte passa a se tornar cada vez mais trivial, corriqueira, inevitável e, muitas vezes, não menos perturbadora por sua frequência. Acredito que nunca saberemos lidar completamente com a morte, a dos outros e a nossa própria - data e hora indefinidas, a não ser que haja um horário premeditado.

Comecei a perder muitas pessoas queridas de uns anos pra cá. Cada perda não foi doendo menos. Cada perda ainda dói. É estranha a ideia de nunca mais podermos olhar nos olhos, abraçar, tocar, conversar, rir, ter a companhia. Ou ao menos saber que, em algum lugar, estes alguéns estão partilhando o mesmo mundo que eu. 

Sei que muitos acreditam em reencarnação. Não quero entrar na discussão de fé ou religião, embora eu creia que só vivamos uma vez, como está descrito claramente na Bíblia Sagrada. Pouco sabemos sobre o pós-morte, apesar de tantas experiências de quase morte (EQM). É um breu. Esperança para alguns, desespero para outros, indiferença para muita gente que se ocupa com o cotidiano para não pensar no fim - ou recomeço - em outro plano.

Quando você olha para uma pessoa morta em um velório, vê que algo expirou, é apenas um pedaço de carne, de matéria, não está mais ali o espírito, a alma, o sopro de vida. Isso é tão estranho! 

Mas o pior mesmo é não poder se despedir. Nem ter velório, enterro entre os familiares e amigos. Perdi minha vó repentinamente aos 93 anos há poucos dias, de Covid. Não foi possível qualquer cerimômia, e o prazo máximo para enterrá-la, devido ao vírus altamente contagioso, e sem presentes, senão os coveiros, era de 4 horas. Ela não está mais aqui, mas não diminui a sensação de enxergar seu sorriso e seus olhos brilhando quando me via, quando, frágil, me abraçava. Poucas vezes a visitei, assim como a outros que perdi, e isso é o que mais dói.

Não apenas estamos abandonando nossos velhinhos, por vezes tão sábios e que tanto nos ajudaram, como familiares e amigos. E não é só a pandemia. Vivemos nas telas, e elas são bem úteis e interessantes, mas nada como o olho no olho, sentir o perfume, admirar o sorriso ao vivo, cada olhar com suas expressões mais profundas da alma. Nem precisa registrar tudo na câmera. A vida se vive dentro de si mesmo.

Hoje penso que não devemos esperar o "um dia", o "amanhã", mas, sempre que possível, estar com nossos amados. Fazer amizades - sinceras, por mais difíceis que sejam. Esquecer rancores. Mudar para melhor. 

O passado definitivamente não volta, e o futuro a Deus pertence. Práticas divinatórias são apenas tendências, temos livre-arbítrio, mas o Senhor (ou algo em que você acredite) é quem decide, por mais que façamos o possível para controlar nosso caminho,

E uma última lição que tiro para mim mesma: viver a vida enquanto ela há. Muitos, neste exato momento, estão lutando para ficar vivos, e saúde é uma bênção muito grande dos Céus. Cuide da sua saúde, física e mental, cuide de quem você ama. Ame-se! 

Eu não sei exatamente o que pode acontecer depois da morte, onde estão tantos que se foram, alguns cedo demais, essa é uma dor alojada no peito, mas que me impele a viver um dia de cada vez.

Tenha um bom fim de semana! Valorize sua vida, e a de quem ama! Flores no cemitério não trazem pessoas de volta, nem são capazes de ouvir um pedido de perdão. 

OBS.: Vó, eu nunca disse, mas espero ter demonstrado: te amo para sempre, a mulher mais forte que já conheci!


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