A guerra tem o rosto da Morte

  

                                                                                     Fonte: Reprodução.

Não poderia deixar de escrever sobre a guerra - ou a iminência dela - da Rússia contra a Ucrânia.

Até porque, para mim, o fato é, de alguma forma negativa, especial: meus bisavós paternos vieram recém-casados da Rússia, de local que, hoje, fica na Volhynia, noroeste da Ucrânia. Meu bisavô viveu 102 anos e falava até o fim da vida com terror sobre o comunismo que o fez fugir no começo do século XX para o Brasil (tem quem faça aliança com a URSS/Rússia). Porém, ao mesmo tempo lembrava com melancolia sua amada Rússia, sua pátria gelada e imensa que nunca mais viu.

Dito isso, saiba que a Rússia já invadiu a Ucrânia. Nos anos 1930, por exemplo, o episódio mais célebre - e trágico. Fato pouco conhecido, dada sua crueldade, foi exatamente o embate que ocorreu na época supracitada, a Rússia sob o governo socialista/comunista ditatorial de Stálin e a Ucrânia rebelando-se contra o controle de um dos maiores assassinos da História. O líder russo não hesitou em cortar todas as vias de alimentação para a Ucrânia, o que levou a um cenário tétrico: milhões de mortos pele sobre ossos, alguns com o coração ainda batendo recolhidos por pás, nas portas das casas, amontoados em caminhões, literalmente como lixo - que é como os russos os enxergavam.  

Holomodor - é o nome da tragédia da década de 1930 (mais precisamente 1931-32) pouco lembrada, uma das mais cruéis matanças do socialismo do Leste Europeu, responsável por tantas guerras e xenofobia.

O socialismo no Leste Europeu, na Ásia e na América Latina, é um regime autoritário que responde por praticamente todas as ditaduras do mundo atual. Matou, calcula-se, 10 vezes mais que o nazismo -  longe de mim apoiar qualquer tipo de ditadura e violência, é claro. Mas, veja, até os campos de concentração nazistas se inspiraram nos gulags comunistas, campos de trabalho forçado. Ironicamente - ou não - pode-se dizer que a Rússia foi quem deu a "guinada" para Hitler perder a II Guerra, na Batalha de Stalingrado, recrutando crianças, mulheres e homens para, nas insuportáveis temperaturas do país (para os estrangeiros), congelar milhares e milhares de soldados nazistas famintos e exaustos. Houve grandes perdas para ambos os lados, mas ali Hitler começou a perder a guerra e o mundo.

Só que a Rússia, antes e depois de expurgar o nazismo, continuou com suas "maldades políticas". Teve a Guerra Fria, entre URSS e EUA. Nada aconteceu na prática, mas foi tenso. A ameaça de uma bomba atômica de um dos lados era real. 

A Rússia (URSS) comemorou o fim da II Guerra esgotando o estoque de vodca de Moscou. Por que continuou e continua fazendo guerra? Suas perdas não foram suficientes? E as do mundo todo? A Rússia ajudou a desenvolver uma vacina para a Covid, a Sputnik V. Lutou, indiretamente, contra a China e sua peste, por muitos considerada de laboratório, inclusive os EUA que saíram da ONU, patrocinada majoritariamente pela China no momento, alegando tal fato e suas provas (Trump e Biden).

Mas há a guerra na Ucrânia.

O motivo? Sempre a conquista de territórios e a xenofobia - aversão a raças ou povos. GANÂNCIA. 

A guerra tem o rosto da Morte, e a Morte não tem rosto, senão o breu gélido do sofrimento, da dor, da perda, da destruição. A Morte capitã, sobre o tanque de guerra, tem o rosto da arrogância, da maldade, do desprezo e da cobiça. Ou é vítima deles, como Israel e Palestina ao proteger seus territórios ancestrais.

Eu, quando lembro de meus antepassados russos e ao mesmo tempo ucranianos, rememoro a clariceana que sou, uma adepta da ritualística de veneração literária de Clarice Lispector: ela  nasceu na Ucrânia como Haia Lispector, e judia. Vítima do socialismo e do nazismo ao mesmo tempo, chegou ao Brasil justamente fugindo das perseguições com 2 meses de vida e a família.

Enfim, creio que é cedo para falar em III Guerra Mundial. Tampouco quero tratar de política, já um território de campo minado apenas dentro do Brasil. Mas posso dizer que a Rússia, o maior país do mundo, antes URSS - ainda mais extenso com a anexação de países menores - está a nos mostrar toda a sua ganância, ao querer ainda se apossar de um pequeno pedaço de terra conquistado com muito suor, sangue e luta armada e ideológica pelos ucranianos.

Por outro lado, Biden, liberal presidente norte-americano, apesar das sanções pesadas a Rússia e China, vem sendo criticado pela malemolência diante do conflito estratosférico, uma sombra vermelha - russa e chinesa - que sufoca e apavora a cada dia mais.

A humanidade não é boa. A humanidade é afeita a guerras, preconceitos, ao orgulho, ao narcisismo - em termos gerais. Não houve evolução na natureza humana porque ela é o que é, e, como o mundo que a cerca, não no raso sentido tecnológico, tende a piorar cada vez mais, como manda a universal Lei da Entropia ou Lei do Caos: sistemas organizados e harmônicos se deterioram até se destruírem. Sempre as artes, cinema, teatro e literatura falaram do fim do mundo provocado pelos próprios humanos.

E agora as tropas russas se aproximam de Chernobyl - leio. Você deve saber que a explosão de uma usina nuclear em Chernobyl, entre 25 e 26 de abril de 1986, foi o episódio mais hórrido sobre radioatividade após as bombas atômicas disparadas no Japão na II Guerra. 

A cidade de Chernobyl, praticamente habitada apenas por fantasmas, vitimada pela explosão da usina, deixou à época inúmeras pessoas mortas e deformadas, doentes, e até mais tarde sofreram a radioatividade em suas veias, mesmo tendo abandonado há muito tal "palco" maldito.

Chernobyl, radioatividade... bomba atômica? Seria um aviso de Putin, presidente (totalitário) das plagas russas? Por que Putin quer tanto a Ucrânia? Chernobyl radioativa. Ou, o que ele quer com essa guerra? Por que a guerra?

Pessoas gostam de guerrear: países, política, religião, futebol, e entre elas mesmas, seus egos, suas ideias "sempre certas", sua raça. A raça humana não é boa, repito. "O homem é o lobo do homem", como disse Hobbes. Tentamos educá-la através de Direitos Humanos e várias ações humanitárias, de forma teórica e prática. Desculpa, Marx, mas a humanidade não é boa o suficiente para viver em partilha natural, mesmo forçada.

Apenas posso desejar que tudo isso passe, e não passe de um blefe! Veio o vírus, 2 meses que ainda perduram - no Brasil ainda são quase 1.000 mortes diárias por Covid - e agora se assomam os canhões.

A guerra tem o rosto da Morte.

E a Morte, agora, só agora eu sei: a Morte tem rosto de pessoa. A pessoa que não aprendeu a se humanizar. 

Você é rosto de guerra ou de paz?


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