Por que atletas recebem diagnóstico de câncer de testículo?

Jean Pyerre - foto divulgação/Girensunspor


A atividade física não é fator de risco para o desenvolvimento de tumor testicular, mas sim a faixa etária dos atletas de alto rendimento. O câncer de testículo é o mais comum em homens de 15 a 34 anos

Ao se apresentar na primeira semana de fevereiro para os exames médicos no Girensunspor, da Turquia, o meia Jean Pyerre, emprestado pelo Grêmio, foi diagnosticado com câncer testicular e, por conta disso, o atleta optou por retornar para Porto Alegre para iniciar o tratamento. Jean Pyerre tem 23 anos e está dentro da faixa etária de maior incidência da doença, que é o tipo de câncer mais comum em homens de 15 a 34 anos.

Está justamente no fator idade a explicação para que outros atletas de alto rendimento tenham recebido o diagnóstico de câncer de testículo. A maioria dos atletas se aposenta na faixa dos 40 anos, enquanto o câncer mais comum nos homens – de próstata – tem sua incidência aumentada a partir dos 50 anos, com pico após os 65 anos.

Assim como Jean Pyerre, outros casos de câncer de testículo em competidores de diferentes esportes (futebol, basquete e ciclismo, citando alguns exemplos) também se tornaram públicos. São os casos do holandês Arjen Robben, o francês Éric Abidal, o americano Lance Armstrong e os brasileiros Nenê Hilário, Ederson e Magrão.

Epidemiologia do câncer de testículo - Ao contrário da faixa etária de maior incidência e prevalência, quando considerados os homens a partir de 35 anos o câncer de testículo aparece apenas na 22ª posição, o que equivale a ser 35 vezes menos comum que o câncer de próstata. Ao todo, são 74 mil novos casos anuais de câncer de testículo no mundo (35 mil deles entre 15 e 34 anos). Os dados são do levantamento Globocan 2020, da Agência Internacional para Pesquisa do Câncer da Organização Mundial da Saúde (IARC/OMS).

Mais números do câncer de testículo no Brasil e no mundo - Ainda de acordo com o Globocan 2020, com 3,3 mil novos casos anuais, o Brasil registra a maior incidência da América Latina de câncer de testículo. Já a maior prevalência no continente é observada na Argentina, com 8,1 casos para cada 100 mil argentinos enquanto a prevalência no Brasil é de 2,5 casos. A maior prevalência de câncer testicular do mundo está no Norte da Europa, mais precisamente na Noruega, que apresenta 12,4 casos para cada 100 mil homens.

Um terço a menos das biópsias de testículo em 2020 – Ao analisar os dados do DATASUS, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica observa que em 2020 houve redução no Brasil, quando comparado com 2019, de 32% no número de biópsias de testículo, exame que confirma o diagnóstico de câncer. “Houve uma grande demanda reprimida como reflexo da pandemia. Ao perceber sinais no corpo, a ida ao médico não pode ser negligenciada”, alerta o cirurgião oncológico Héber Salvador, presidente da SBCO.

Outro fator que dificulta o diagnóstico precoce no Brasil é o fato de ser muito comum o homem associar qualquer alteração no testículo com alguma doença venérea ou trauma recente. Embora o câncer de testículo tenha baixa mortalidade, o sucesso do tratamento é maior quando a doença é descoberta precocemente.

Nos Estados Unidos, onde são registrados cerca de 10 mil novos casos anuais de câncer de testículo, 99% dos pacientes estão vivos cinco anos após o tratamento quando a doença é diagnosticada na fase mais inicial. Quando há disseminação à distância (metástase), a sobrevida em cinco anos cai para 72,5%. Os dados são do SEERs, levantamento do National Cancer Institute (NCI), dos Estados Unidos.

FATORES DE RISCO

Idade - a maioria dos casos ocorre entre as idades de 15 e 50 anos, sendo o mais comum no mundo na faixa dos 15 aos 34 anos.

Raça - Os homens brancos têm de 5 a 10 vezes mais chances de desenvolver câncer testicular do que os homens de outras raças.

Herança genética – Quando há história familiar de câncer de testículo, o risco é aumentado.

Criptorquidia – Condição na qual o testículo não desceu para o escroto é importante fator de risco. Homens que fizeram cirurgia para corrigir esta condição também têm risco de desenvolver câncer testicular.

Síndrome de Klinefelter - risco aumentado também para quem apresenta esse transtorno cromossômico sexual, que é caracterizado por baixos níveis de hormônios masculinos, esterilidade, aumento dos seios e testículos pequenos.

Vírus da imunodeficiência humana (HIV) e tratamento anterior para câncer testicular também são fatores de risco e requerem maior atenção.

SINTOMAS

- Nódulo pequeno, duro e indolor

- Mudança na consistência dos testículos

- Sensação de peso no saco escrotal

- Dor incômoda no baixo ventre ou na virilha

- Dor ou desconforto no testículo ou no saco escrotal

- Crescimento da mama ou perda do desejo sexual

- Crescimento de pelos faciais e corporais em meninos muito jovens

- Dor lombar

TRATAMENTO

A abordagem terapêutica é definida caso a caso. A cirurgia, chamada de orquiectomia, é feita para remover o testículo com uma incisão na virilha. Nesse momento, amostras de tecido são examinadas para determinar o estágio do câncer. Os tumores de testículo do tipo seminoma (o mais comum) são tratados com cirurgia, muitas vezes, associada com radioterapia ou quimioterapia a depender do estadiamento (fase de descoberta da doença).

Sobre a SBCO - Fundada em 31 de maio de 1988, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) é uma entidade sem fins lucrativos, com personalidade jurídica própria, que agrega cirurgiões oncológicos e outros profissionais envolvidos no cuidado multidisciplinar ao paciente com câncer. Sua missão é também promover educação médica continuada, com intercâmbio de conhecimentos, que promovam a prevenção, detecção precoce e o melhor tratamento possível aos pacientes, fortalecendo e representando a cirurgia oncológica brasileira. É presidida pelo cirurgião oncológico Héber Salvador (2021-2023).

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