CONFIRA A ENTREVISTA DA ESCRITORA, LAURA JANAÍNA GARCIA QUIDÁ, UMA DAS AUTORAS DO LIVRO MOMENTO ALDRAVIA

 


É Professora Efetiva da Rede Municipal de Ensino em Corumbá, Estado de  Mato Grosso do Sul há 23 anos. Atuou como formadora local do PNAIC - PACTO NACIONAL PELA ALFABETIZAÇAO NA IDADE CERTA. Foi galardeada com os prêmios Professor por Excelência e Professor Inovador. Foi membro do Conselho de Alimentação Escolar de Corumbá; sendo atualmente do Fórum da Educação. É co-autora  na Antologia Consonância Plural, impressa pela Editora Edições & Publicações ltda, escrevendo poesias. É pós graduanda em Psicopedagogia com ênfase em gestão escolar, Ludopedagogia e literatura na educação infantil e em Alfabetização e letramento e a psicopedagogia institucional, além de realizar curso “Rota e Redes Literárias” pela Fundação Vale parceria com o Instituto Tear.



ENTREVISTA: 

Revista Projeto AutoEstima: Poderia contar para os nossos leitores como foi o seu início no meio literário?


Laura Janaína Garcia Quidá: Foi inusitado! Na verdade, sou uma professora em essência. Tenho trilhado esse caminho por mais de duas décadas. Entretanto, certo dia eu fiz uma ligação para o meu namorado, dizendo: - Olha, eu queria fazer algo diferente esse ano, para incentivar a leitura para os alunos, sair um pouco do tradicionalismo. Ele me  respondeu prontamente. – O meu olhar sobre isso é que há uma tendência a universalização do celular em detrimento do ensino formal. Que tal tentar motivar os pais a adquirir jornais e revistas – valorizar a imprensa escrita?


Laura Janaína Garcia Quidá recebendo uma moção

           A ideia era interessante, mas a comunidade em que eu atuo  não tem ao menos uma banca de revistas, e na cidade, temos apenas duas bancas de jornal e um alfarrábio, aonde recentemente adquiri um livro do Lécio “História de Corumbá”. Foi então que eu iniciei um projeto de utilizar o jornal como método pedagógico de aprendizagem. Inicialmente preparei um questionário para os alunos, perquirindo justamente isso. Incluí  algumas perguntas, tais como: - há quanto tempo não leem jornal ? E o motivo. Fiz outro questionário para os pais, indagando se eles achavam interessante o jornal e se compravam com regularidade  e os motivos. De posse destes formulários  montei gráficos e análises, e apesar de terem dois jornais impressos na cidade eles não chegavam a população como um todo, e eram mais restritos aos assinantes e repartições públicas. (Numa cidade de 100 mil  habitantes a tiragem semanal é de 2 mil exemplares)

        Com recursos próprios  adquiri todas as semanas durante todo o ano letivo, um jornal para cada aluno, comecei adquirindo os da cidade depois trazia da capital e de outros municípios. Entregava na sexta feira e eles levavam para casa para lerem e passar para os pais. Na primeira semana, foi um encanto, as crianças pareciam que estavam recebendo um brinquedo, os pais também,  iam para as palavras  cruzadas e horóscopo. Neste primeiro momento a primeira tarefa foi pedir para os alunos selecionassem as palavras ainda não conhecidas  e assim todos juntos fomos buscar no dicionário. Na outra semana fizemos leituras, na outra fizemos dobraduras com os jornais, na outra figuras geométricas (triângulos, quadrados) até que  na última semana estávamos fazendo cestas de jornal ( artesanato).

         Foi então que  o mesmo recurso pedagógico, trouxe: arte, informação, cultura,  melhoras na dicção, debates sobre  a preservação do meio ambiente e enfim utilizamos diversas possibilidades. Percebi então, que aquele ano transcorreu diferente dos anteriores e de repente;  eu tinha alunos fazendo boas redações e até poesias, além de estarem  com informações seguras e atuais.

          Para aqueles que tinham alguma dificuldade comecei a trabalhar com aldravias e num passe de mágica, lá estava eu, fazendo poesias com as crianças, de uma maneira minimalista e acessível. Foi um momento em que eu também fui melhorando com minha poesia e ampliando os motivos para fazê-la. As vezes a saudade do amor, outras vezes a esperança. E nesse momento, usando o tema esperança, participei de um concurso de Poesias a nível nacional, foi o “Colei” de onde fui classificada e fiz parte de um e-book dos ganhadores e alguns poetas renomados, convidados. Então de posse desse material, comecei a colocar a cada dia uma poesia colada na porta e na abertura dos trabalhos, fazia a leitura de uma poesia, como se fosse um “Bom Dia”.  Em sequência já tínhamos alunos ganhando concursos de redação, um aumento da média na Prova Brasil e  eu co-autora de um livro de aldravias, o “momento Aldravia”, que está concorrendo ao Prêmio Ecos de Literatura. Concomitantemente eu estava realizando como aluna, um curso denominado “Rota e Redes Literárias pela fundação Vale  com o Instituto Tear, que tinha esta mesta temática de incentivo a leitura, e incluindo fazer poesias e minicontos. Ou seja foi um turbilhão de situações acontecendo e me conduzindo nesse caminho literário, de pensar em pontos de leitura e fui paulatinamente engedrando o urdir pela literatura.


Revista Projeto AutoEstima: Depois do “ Momento Aldravia” teve outras participações?


Laura Janaína Garcia Quidá: Sim, apesar de estar vivendo um instante mágico, pois o livro está praticamente com tiragem esgotada e está concorrendo no prêmio Ecos de Literatura. Fui maravilhosamente bem recebida pela antologista Aline Peruzzo e a poetisa Elaine Brecci da Brecci Books Editora. Embora antes disso, teve um momento triste na minha vida, época em que meu pai faleceu e eu como toda filha, senti muito. Às vezes, a vida nos tira o que ou quem temos de mais precioso, trazendo-nos uma perda por demais dolorosa, cujas marcas estarão impressas em nossa alma enquanto vivermos. Poderemos até voltar a sorrir, a sonhar, a ser alguém que segue em frente, mas a carga das cicatrizes enraizadas estará ali, silenciosamente presente. Então fiz uma poesia pra ele que foi publicada na Antologia “meu pai- meu heróii, meu primeiro amor”.  A despeito das situações a vida continua e voltando a profissão de educadora, fiz poema com esse tema que está na coletânea “ Consonância Plural”Editora EP. Essa poesia conta o simples: Que jamais vou esquecer tudo que me ensinou, todo amor que me deu e o exemplo de homem que foi. Meu amor por você ele será eterno e não há morte que consiga enfraquecê-lo, e aonde estiver saiba que minha saudade será eterna e inconsolável. 



Revista Projeto AutoEstima: Poderia destacar um trecho da sua participação no livro Momento Aldravia?


Laura Janaína Garcia Quidá: Antes de mais nada aproveito essa oportunidade para explicar essa modalidade poética. O nome aldravia vem da palavra aldrava, argolas de ferro mais  usadas  antigamente  nas portas das casas em Mariana, Ouro Preto e Sabará, que são cidades mineiras. A aldrava era o que hoje para nós é a campainha ou interfone. Era usada para chamar os moradores da casa, pois seu som é bem mais forte que o som da batida de nossas mãos na porta. Assim sendo, sintam a  Aldravia  bater nas suas portas, chamando-os para contemplar a poesia presente em poucas palavras. 


                                                           Esquema:

·       é uma sextilha(6 versos);


        cada palavra forma um verso (palavra-verso);


·       os versos iniciam por letras minúsculas;


·       não se usa pontuação (apenas ponto de interrogação e exclamação), nem título, nem métrica;


·       emprega-se mais a metonímia que a metáfora;


·       nomes de pessoas com sobrenomes e palavras unidas com hífen são considerados um verso. 

     aluno

      professor

       família

       educação 

      arraigada

        trilogia



Revista Projeto AutoEstima: Quais dicas você daria aos autores que desejam participar de um concurso literário?


Laura Janaína Garcia Quidá: Se você está pensando em participar de algum concurso literário, siga adiante! Há muitas opções e gratuitas pelo Brasil afora. É possível que, você nunca ganhe um prêmio, e isso é justamente o que menos importa. O que realmente importa, é que você se expresse, que se deixe fluir e que cresça com cada palavra que escreva. Porque as palavras nos fazem crescer e o amor faz transbordar!



Revista Projeto AutoEstima: Como os leitores interessados deverão proceder para saberem mais sobre você e seu trabalho no mundo literário?


Laura Janaína Garcia Quidá:  A importância dos livros impressos.sempre será uma plataforma maravilhosa, oferece espaço para tudo. Todavia a relação entre corpo e cidade, relacionamentos passageiros e longos e solidão. As letras no papel podem imprimir, também, a vida dos escritores e assim, hoje, a poesia pode estar na ponta dos dedos, a um clique de distância. É a nova geração de poetas que começou a publicar nas mídias sociais, sobretudo no Instagram. Caíram nas graças não só dos leitores; que aderiram a leituras mais rápidas, em pílulas ;, mas também atraíram as editoras, que perceberam o potencial de vendas e de publicação gerado pela internet. Então também me curvei a esse desígnio, é só digitar e aparece o trabalho de cada um de nós. Fácil, acessível e em casa.



Revista Projeto AutoEstima: Existem novos projetos em pauta? 


Laura Janaína Garcia Quidá: Tenho o total apoio da coordenação e da direção da escola em que trabalho, que participa do Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares. Ali estamos de mãos dadas e com um só objetivo: Entregar um cidadão para a sociedade, com pés no chão e pensamento na coletividade. Um aluno que pensa, debate e reflete sobre seus atos. E isso aproxima os pais e a comunidade para o ambiente escolar. E o que vem depois é simples consequência de nossos atos. vejo e recebo exemplos claros e evidentes disso e tudo isso fez-me chegar aqui na Revista Projeto AutoEstima, para poder contar essa minha história de vida, de amor e de resiliência. Ser mulher simplesmente, pois o futuro está em amar o próximo, esse amor que nos mantém vivos, e com vontade de viver. Deus te dá em dobro o que desejastes ao teu semelhante !



Perguntas rápidas:


Um livro:  A Bíblia

Um (a) autor (a):  Eric  Carle

Um ator ou atriz:  Lima Duarte

Um filme: de Frank Capra -  It's A Wonderful Life. 1946

Um dia especial: Quando um certo alguém... me pediu em namoro.



Revista Projeto AutoEstima: Deseja encerrar com mais algum comentário?


Laura Janaína Garcia Quidá: Neste Brasil pós-covid, um detalhe me preocupa. Os métodos de avaliação. Entendo que a aferição deve ser considerado de onde estávamos e onde pretendemos chegar. É verificar não se aumentou o “satisfatório”, mas diminuímos o insatisfatório? . Educação é onde estamos e o que ainda precisamos fazer! Enquanto medirmos a educação comparando-nos com as produções de qualidade em fábricas, não veremos o que conquistamos, apenas o que falta! O que se gasta na escola é o que não se gasta nas outras áreas, principalmente segurança pública e saúde. Vou exemplificar: na Suécia, 112º país do mundo em população carcerária, são 4.852 presidiários para 9,5 milhões de habitantes 51 para cada 100 mil habitantes. No Brasil, que tem a 4ª maior população carcerária do mundo, são 584.003 detentos, ou 274 por 100 mil habitantes. Na Noruega, cito a prisão de Bastoy. Com o trabalho dos detentos, a prisão é autossustentável e tão ecológica quanto possível. Os detentos fazem reciclagem, usam energia solar. Não há até ontem registros de tentativas de fuga. Outro detalhe que eu desejo acrescentar: o discurso da otimização e dos rankings esquece é que, no fim das contas, se o aluno não quiser aprender e não estiver minimamente interessado na escola, não há mágica econométrica, estatística ou tecnológica que resolva. E foi isso que vimos, de novo, na pandemia: mesmo quando o aluno podia aprender em casa, no seu tempo, no seu ritmo, a estratégia administra o conteúdo mesmo que por aplicativos ou outras adaptações eletrônicas, ao meu ver teve resultado limitado. O problema não era o lugar, o tempo, ou o ritmo: era a pedagogia, o interesse do aluno, o suporte do mestre e amigo, leia-se: “professor. 


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