Relação aberta e trisal: modernidade ou libertinagem?

 

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Muito tem se falado sobre novas formas de relacionamento, sejam hétero, homo ou transexuais. Dos principais temas em pauta, trazidos recentemente por celebridades da TV e influencers digitais, estão a relação aberta e o trisal - este, um casal formado por três pessoas que sabem da existência uma da outra na relação. 

A atriz Fernanda Nobre, por exemplo, declarou que vive tranquilamente uma relação aberta com o marido. É claro, toda relação tem (ou deveria ter) regras, e não sabemos quais são elas, mas me arrisco a dizer que, a despeito da busca livre pelo prazer - na maioria dos casos, só se admite envolvimento sexual com outras pessoas em uma relação aberta -, há sempre o risco de se apaixonar em uma transa, um encontro que pode se desdobrar em vários. 

Mesmo em um mènage a trois, em que um casal tem relações sexuais com mais uma pessoa ao mesmo tempo, seja ela do sexo feminino ou masculino ou trans, há riscos, e isso foi bem ilustrado na minissérie protagonizada por Paolla de Oliveira na Rede Globo, ˜Felizes para Sempre?˜ (2015, parece ontem!): um casal morno só queria apimentar a relação, e, ao contratar a garota de programa Danny Bond (Paolla Oliveira), acaba criando, já na primeira e única vez em que os três dividem os lençóis, um problema. Ali é plantada a semente de uma paixão mútua entre a recatada esposa Marília (Maria Fernanda Cândido) e Danny (que já vive um relacionamento com outra mulher, a quem trai e despreza escondendo sua verdadeira profissão). Ao mesmo tempo, o marido de Marília, Cláudio (Enrique Diaz), um poderoso dono de construtora, corrupto e ligado estreitamente ao governo do Brasil, segue comprando os serviços de Danny Bond, apaixonado, sem que a esposa Marília saiba, com muito dinheiro para a garota de programa e ameaças se se afastar dele. Spoiler: é claro que ele e a esposa descobrem a vida dupla de Danny Bond (apaixonada por Marília e correspondida, após um plano de sedução bem executado). E acaba em tragédia. 

E é claro que nem sempre acaba em tragédia. Mas pode acontecer, a arte imita a vida. 

Você conhece, conheceu, vive ou já viveu ou pensou em viver uma relação aberta? Já lhe propuseram isso? Antigamente, era bem comum, até na cultura judaica que deu origem ao cristianismo, um homem ter várias mulheres (ainda é permitido), e até se relacionar com sua cunhada caso sua esposa não pudesse (possa) lhe dar filhos, por exemplo. Há muitos séculos, a religião muçulmana e outras aceitam que um homem tenha várias esposas (a esposa ter vários maridos, desconheço). O caso mais emblemático é do poderoso rei Salomão: registra-se na Bíblia Sagrada que possuía setecentas esposas e trezentas concubinas! Haja fôlego! Mas essa liberdade era permitida a quase todos os reis da Antiguidade, como os faraós, incluindo casos de incesto.

Um adendo: desprovida de qualquer preconceito, mas por vivência e observação, afirmo que sabe-se do fato de que há muitos relacionamentos abertos - alguns envolvendo namoros, outros só sexo - especialmente entre as celebridades. Há, ainda, relações de fachada, visto que o mundo artístico é, sejamos sinceros, marcado pela libertinagem na maioria dos casos. Envolve beleza, fama e dinheiro, ingredientes praticamente irresistíveis quando somados. Mas aqui reitero que, é claro, trair é diferente e é uma escolha, no caso de não estar prevista na relação de um casal ou trisal nos moldes em que ocorreu. Alguns casais famosos assumem relacionamento aberto, mas poucos fazem isso, pois esse tipo de relação ainda não é visto com bons olhos pela maioria do povo. E não é assim tão comum, tanto que o segredo das regras fica na surdina.

E convenhamos: é complicado. Haja segurança, amor ou paixão, mente aberta e coragem. Sempre a coragem de assumir riscos - seja para salvar casamentos que se desencantaram ou experimentar algo diferente. 

Muitas propostas de casais podem ser encontradas em aplicativos de relacionamento e ˜pegação", como Tinder, e a maioria esconde suas faces: procurando pessoas em um relacionamento aberto, seja sexo a três ou separados cada um dos compromissados, ou buscando uma pessoa para formar um trisal, um tempero a mais para o namoro ou casamento.

Trisal

Por sua vez, exemplo de trisal recentemente viralizou com o empresário Diogo Matheus Simon, 33, e a advogada Graziela Veras Parrião Lustosa, 31. Casados há 15 anos, pediram a influencer Natalia Bezerra da Silva, 26, em namoro, e não sei importam em contar o relacionamento que vivem. Veja bem, realmente se casaram muito novos, e nem sabemos se é a primeira vez em que um trisal ocorre entre eles, mas esse foi parar na mídia de todo o Brasil. 

Já vi entrevistas com trisais no YouTube, aparentemente satisfeitos. Mas até quando? É possível amar, ou ser realmente apaixonado(a), permitindo que outra pessoa entre no casal? E se ocorrer de se apaixonar por uma das pessoas do casal? Ou, no sexo, um membro do casal se sentir preterido? E mais: você pode ter essa vontade, mas ficaria realmente "de boa" se sua(seu) parceira(o) tivesse relações sexuais ou namoros com outras pessoas, ainda que lhe informe quem, quando e onde? 

Dizem que há os "machos predadores com necessidades biológicas de mais sexo", mas acredito que hoje as mulheres não se comportem mais com tanto recato na área sexual/sentimental e que esse argumento chega a ser grotesco, embora popular, ainda que tácito, inclusive aceito por muitas mulheres que sofrem mudas. É uma relação muitas vezes tóxica, em que apenas um lado deseja ser mais livre. 

Uma vez, uma pessoa com quem me relacionava havia um bom tempo - mas que eu sabia que tinha fama de promiscuidade, e não estou aqui generalizando casos parecidos - me disse com todas as letras: "Eu te amo, mas tenho necessidade de me relacionar com outras pessoas". Inicialmente aceitei, mais por comodismo e paixão, mas lembro que não dormi de angústia naquela noite e acabei dizendo "não" no outro dia de manhã. E olha que eu não era ciumenta naquela época - traições e mentiras me fizeram vigilante e desconfiada, o que não acho de todo errado: como diz o ditado, quem ama, cuida. Cuida de várias formas. Sem destruir, que aí já não é um relacionamento saudável.

E você? O que pensa do assunto? Já pesquisou sobre o tema? 

Estes relacionamentos, digamos, diferenciados e mais livres, coadunam com a teoria da Modernidade Líquida (fugaz, descartável, mutante) de Zygmunt Bauman, que inclusive escreveu um ótimo livro chamado "Amor líquido". 

E não julguemos: pode haver amor no poliamor (ou polisexo). Ou, ainda, pessoas sufocadas para manter um relacionamento, aceitando uma liberdade destrutiva para elas mesmas. 

Se você me perguntar se eu aceitaria relação aberta ou trisal, com certeza eu diria que não. Não me considero uma pessoa de cabeça fechada, mas sei alguma coisa da natureza humana e do nosso mundo, tão rápido, superficial, um buffet de diversão e pessoas está sempre à disposição e "jorrando pelas bordas". Jamais dividiria, hoje, quem eu amasse ou por quem estivesse apaixonada com outros(as). Nem uma vezinha só. Bem, uma vezinha só não garanto, se em comum acordo, apesar dos riscos...

O amor, como a vida, é arriscado e a maturidade nos leva a novos caminhos ou à reafirmação de antigas convicções. Descubra quem você é e do que precisa, e vai ter algumas das principais respostas, no amor e na vida. 



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