Shakespeare nunca foi tão atual: ser ou não ser? Eis a questão

 

Fonte: Divulgação

A peça teatral "Hamlet", de William Shakespeare (1599 a 1601), sobre o príncipe dinamarquês Hamlet, é a mais longa que escreveu. Não à toa: é prolífica em questões existenciais, éticas e no próprio enfrentamento da morte. O príncipe dinamarquês Hamlet busca vingança pelo assassinato de seu pai, o rei Hamlet, cometido pelo próprio irmão do monarca, Cláudio, que, além de o matar, tomou a rainha e se casou com ela. Da peça "Hamlet" provém a clássica pergunta, já incorporada à cultura brasileira e a outras: "Ser ou não ser, eis a questão". 

Ser o quê? Ser quem? O problema da nossa identidade pessoal nunca foi tão complexo, em uma época em que há tanta liberdade e variedade de estereótipos, inspirações e possibilidades com que se identificar. O espaço vazio onde se pode flutuar - e se perder - é imenso, e, muitas vezes, ao mesmo tempo sufocante.

Como seres sociais, sempre nos espelhamos - querendo ou não - nos outros, naqueles com quem convivemos, que admiramos, invejamos, amamos, até mesmo odiamos. "Diga-me com quem andas e te direi quem és" é um ditado bastante acertado, embora, penso eu, caiba a nós não nos amoldarmos, de maneira cômoda, aos que nos rodeiam, a outras pessoas.

Antes, devemos procurar nossa melhor e única versão, feita de "retalhos" e "reflexos" de outras pessoas, o que é inevitável. 

Nossos reflexos, ecos, as partes mais intrínsecas do que somos, provêm de nossas experiências, ainda no útero da mãe. São coisas de que muitas vezes nem nos lembramos, mas nosso subconsciente, sim. Aliás, você sabia que aproximadamente 90% das nossas reações são resultado do nosso subconsciente - aquela "caixa-preta" no nosso cérebro que não podemos controlar, mas podemos conhecer, por meio de tratamentos como terapia e exercícios cerebrais. 

Enfim, o subconsciente é quase tudo o que somos, o que podemos compreender e escolher livremente é só a pontinha do iceberg em cima da água. 

Mas o fato é que SEMPRE podemos escolher. Sempre há uma escolha do que se fazer ou ser. Não podemos simplesmente culpar nosso passado, circunstâncias, outras pessoas, já que, no final, são nossas reações diante das situações e de nossa própria condição humana que fazem a diferença. São nossas escolhas, nem sempre fáceis, que muitas vezes exigem força, disciplina, autoconhecimento e sabedoria. 

Gosto de uma frase do autor Eduardo Galeano: "Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos". Então, você é aquela pessoa que diz: "eu nasci assim, eu sou assim, eu vou ser sempre assim", ou aquela que procura melhorar a cada dia, refletir sobre sua própria vida, tentando viver com toda a plenitude, evoluir, crescer? Cair, todo mundo cai. O importante é quantas vezes você se levanta e recomeça a viver e a ser. 

Conforme as fases da nossa vida mudam, nós também mudamos, mesmo que não percebamos.

E "perder-se também é caminho", disse Clarice Lispector. Às vezes, é só por meio da dor que aprendemos, nos descobrimos, percebemos certas coisas e nos tornamos pessoas, quiçá, melhores. Melhores em primeiro lugar para nós mesmos, depois para quem amamos e para o mundo. 

O que não dá é viver só imitando os outros ou, ao contrário, como uma ilha perdida em alto-mar. Não dá para viver só para si, nem só para os outros. Somos um conjunto daquilo que deixaram em nós e que deixamos nos outros ("O Pequeno Príncipe"). Nossa rosa somos nós mesmos, e o tempo que dedicamos a ela é o que a torna importante - e viçosa, e única. 

Ser ou não ser é a questão, sempre foi e será.

Você sabe quem é, quem pode ou deseja se tornar, qual seu lugar no mundo? Ninguém nasceu em vão, acredite. Nada nesse mundo acontece por acaso.

Bom final de semana! 



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