O silêncio dos inocentes: a pandemia de abuso sexual no Brasil

 

Fonte: Divulgação


Recentemente, o Brasil ficou chocado com a violência sexual cometida pelo anestesista Giovanni Quintella Bezerra: ele foi filmado em pleno ato de estupro de uma mulher na mesa de parto (!), após a ter dopado. Além disso, e o que poucos sabem, é que o meliante está sendo investigado por mais cinco casos semelhantes em locais onde trabalhou, como o Hospital da Mulher Helonoida Studart. Hoje, 14 de julho de 2022, Giovanni ocupa sozinho uma cela de 36 metros quadrados e é hostilizado pelos próprios presos que cercam sua prisão. Este é só um caso emblemático de até onde a maldade e até insanidade humanas podem chegar. Temos ainda casos hediondos de estupros de mulheres, homens, adolescentes, travestis, animais (violência contra animais, não mais "coisas" na Legislação, mas entes com sentimentos e necessidades básicas, é crime no Brasil). Provavelmente o mais hediondo de todos os crimes sexuais é contra os mais vulneráveis, o estupro de bebês e crianças pequenas.

Não pense que esta violência maléfica e traumatizante, que pode comprometer uma vida inteira da(o) abusada(o) sexualmente, é praticada apenas por pessoas com problemas mentais, psiquiátricos, ou "errantes na sociedade", drogados, bêbados, mendigos, bandidos; muitas vezes, abuso e violência sexual - das formas mais sádicas e psicopáticas possíveis - são praticados por pessoas da alta sociedade, proeminentes e tidas como ilibadas, como políticos, médicos, grandes empresários etc.

Não é necessário dizer que temos um Judiciário muito bem aparelhado para "passar os panos" na maioria destes crimes sexuais, quer por falta de isonomia de quem julga, quer por suborno ou "alianças" entre membros de sociedades secretas ou grupos de infratores que se protegem uns aos outros e têm acesso a altas cúpulas de poder - isso quando não estão dentro delas.

Fatores que agravam a detecção e denúncia de violência sexual no Brasil 

O que piora a situação pandêmica da violência sexual no Brasil são, dentre outros, a desigualdade social, o abusador é mais "forte" social e politicamente, e até conta com "blindagem" (membros de igrejas podem ser aqui incluídos, como padres e pastores, e políticos, capazes de fazer ameaças e até "queimar arquivo"); ainda, temos o consumo excessivo de álcool e drogas, violência doméstica contínua - muitas mães chegam a acobertar os abusos sexuais nos próprios filhos, ou até participar desses atos horrendos; a força física do ou dos abusadores (estupros grupais são frequentes), impunidade, lentidão da Justiça... 

A maior parte dos casos de abuso sexual ou estupro acaba nunca sendo conhecidos pela sociedade ou pelos que convivem com a(o) abusada(o), muito menos denunciados, geralmente por medo mediante ameaças ou a vergonha de se expor ou à família. 

Mas é fato que nossa esfacelada Nação, repleta de ódio, mandos e desmandos, é uma das campeãs mundiais em abusos sexuais, notadamente de pessoas do grupo LGBTQI+, mulheres, adolescentes e crianças. Para se ter uma ideia, a Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (PeNSE), entre 2009 e 2019 constatou que, no Brasil, 14,6% dos adolescentes, ou seja, 1 em cada sete, sofreram algum tipo de violência sexual; destes, 5,6% tiveram relação sexual forçada. Não obstante, foi observado um crescimento dos registros de violência física, notadamente em estudantes, praticado por um adulto da família. Em 2009, esses casos eram 9,4%, em 2015, 16%. 

Em 2022, levantamento do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos revelou que, de aproximadamente 4.500 denúncias de violação infantil em 2021, 18,6% eram de abuso sexual e 74% destas ocorreram contra crianças e adolescentes do gênero feminino.

Grande parte dos casos de abuso sexual e estupro são praticados por membros da família como pai, padrasto (com ou sem a mãe ou madrasta, ou a permissão velada destas), tios, maridos, namorados, avôs, primos e amigos. Há, ainda, casos frequentes entre médicos e enfermeiros, professores e a polícia. Muito triste, porque, além do provável silêncio eterno, ou restrito a uma e outra pessoa de confiança, a(o) abusada(o) tem alta probabilidade de sofrer a vida inteira sequelas psíquicas graves, ainda que não seja capaz de se lembrar do abuso ou estupro sofrido - o cérebro muitas vezes "apaga" traumas para autopreservação. 

E como podemos melhorar isso?

Primeiro, como já mencionado, denuncie! É perigoso? Sempre há meios de se resguardar, como medida protetiva solicitada na delegacia, disques-denúncia (específicas de violência infantil ou sexual), afastamento de vítima a abusadores, a luta, embora muitas vezes desleal, através da Justiça Comum. Sabemos que esta se encontra carcomida de corrupção, mas isso não significa que não possa punir os culpados, ainda que leve tempo, e que não haja pessoas de boa fé e incorruptíveis. 

Neste sentido, nós, da mídia, e você, cidadão leitor e que acompanha os fatos públicos, tem a responsabilidade de ajudar no combate à violência sexual: instrua as crianças e adolescentes, onde pode tocar e onde não pode, em especial professores, divulgue dados, depoimentos - nem sempre a pessoa abusada sabe que foi vítima de abuso. Aqui, quero distinguir abuso sexual de estupro, embora ambos sejam formas de abuso sexual: o estupro é a consumação máxima do abuso - que pode se resumir a palavras, toques nada inocentes ou propostas impróprias, assédio físico e moral de caráter sexual. 

Muitos dos abusados são vigiados e perseguidos, até mesmo pelo Judiciário, que "faz vistas grossas" em favor de abusadores proeminentes. Nem vou falar na hipocrisia desses criminosos, que aparecem em redes sociais, jornais, revistas, campanhas políticas e de saúde como cidadãos irrepreensíveis. 

Não duvide da capacidade de enganar do ser (des)humano! Cuide de si mesma(o) e dos seus, observe comportamentos estranhos, depressão, tristeza, medo, desenhos, comentários, queda súbita de desempenho escolar, em especial entre crianças e adolescentes. 

Vamos "botar a boca no trombone"! 

Uma confissão: minha e talvez nossa

Eu aqui, eu entrego a você um fato que pouquíssimas pessoas sabem: eu já sofri abuso sexual e até mesmo o que se pode chamar de estupro, por pessoas conhecidas da família, que aparecem até nos jornais. Sei de vários casos semelhantes. Essas pessoas, é claro, no máximo são vítimas de "fofoca", mas, sobretudo, em sua maioria baluartes da sociedade do "homem de bem". Hoje, vejo claramente que nem sempre fui capaz de detectar o abuso, como recentemente o fez a atriz Luana Piovani, contando seu caso aos vinte anos, por um diretor de TV em um programa do qual participava. 

Qualquer forma de violência ou coerção sexual, ou de intenção sexual é crime! Nessa batalha, convido você a ter coragem, votar em políticos que combatam abertamente a violência geral e sexual, sem condenações ou suspeições (são geralmente absolvidos, e os casos, "enterrados") por tais crimes grotescos. 

Seu corpo é seu bem mais precioso na terra, pois dentro dele habitam sua alma e seu espírito. Cuide-se, previna-se, converse com alguém, acompanhe seus filhos e amigos, colegas da escola, alunos, procure um psiquiatra em casos suspeitos ou comprovados de abuso sexual, faça exame de corpo delito, B.O., não deixe que eles continuem impunes e sem levar tapas na cara da sociedade!

Ademais, como supostamente disse Martin Luther King: "Não é o grito dos maus que me preocupa, mas o silêncio dos bons". Grite mais do que eles! "Bata" mais do que eles! Fale, desafie, previna-se! Proteja-se! 

Juntas(os), somos mais fortes! E mais fortes do que podemos imaginar. Vamos fazer a diferença no mundo, no nosso e no daqueles que amamos. Vamos fazer Justiça!

CONFIRA AQUI TODOS OS CANAIS E MEIOS LEGALIZADOS PELOS QUAIS VOCÊ PODE DENUNCIAR, PREVENIR-SE E SE PROTEGER DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E SEXUAL.


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