A geração que precisa ouvir mais e falar menos

Fonte: Divulgação

A Era Digital e sua tecnologia hiperativa, notadamente a Internet, deram voz a muita gente. Além, é claro, de galvanizarem a tão mencionada "liberdade pós-moderna" (nem tão livre assim, no sentido estrito do termo: liberdades se tolhem umas às outras).

Mas o fato é que gente que antes não tinha voz; gente que precisava falar; gente que tinha o que falar para contribuir com muita gente; gente que não tem nada a dizer a ninguém; gente que só tinha ódio para exprimir, todos ganharam voz. A parte ruim é que, aparentemente, quem mais fala é quem menos tem a dizer: os sábios são de poucas e ponderadas palavras, não por isso menos incisivas e esclarecedoras.

Somos uma geração que muito "fala" (geralmente digitando no smartphone, e não me refiro à extensão dos textos, mas à sua frequência) e pouco ouve. Muito sabe, e não quer saber de outra opinião, e pouco ouve (telas, livros, palavras faladas).

Dizem que o prêmio Nobel, oriundo de O velho e o mar em especial, um livro simplíssimo e por isso mesmo um dos meus preferidos, Ernest Hemingway, disse um dia alguma coisa assim: "São necessários dois anos para aprendermos a falar e sessenta para aprendermos a calar".  

Tenho considerado, entre várias reflexões, que uma das coisas que mais nos agregam como seres humanos é realmente saber quando apenas ouvir (e ouvir mais, sem preconceitos e "pedras na mão") e quando falar. E mais, como falar, sem ofensas, mas através de argumentos consistentes e respeitosos. Para isso, é necessário ter a cabeça aberta e, então, se manter informado a partir de diferentes pontos de vista. Ninguém é dono absoluto da razão entre os humanos, tão falhos que somos. Nem todos os fatos são interpretados da mesma maneira por todas as pessoas, têm o mesmo impacto sobre todas as vidas, memórias, ideologias, personalidades. O que não significa, peraí, que não haja verdades absolutas: é fato que a Terra gira ao redor do sol, e que eu e você, mais cedo ou mais tarde, vamos morrer (para onde vamos, e se vamos, é uma longa discussão). 

Hoje, muito se fala, muito se "cancela fulano" por qualquer coisa, não concorda comigo não é mais meu amigo, aliás é objeto do meu fácil ódio, não aceito argumentos contrários aos que construí sob pena de excluir você das telas e da vida real. Já sei de tudo, já ouvi isso antes, não quero saber. Péssimo!

Agora, convenhamos: a situação está tão caótica que um block em alguém nas redes sociais às vezes resolve muita coisa, se constatado que a pessoa, repleta de ódio descabido e incoerência, não é capaz de ter respeito a divergências e se combate o ódio com o ódio (não existe "ódio do bem", ou estaremos descendo ao nível daqueles que vivem de tal ódio, o Mal em essência em diversas facetas). 

Não quero me alongar. Tenho estado um tanto ausente por aqui, por lá, acolá, motivada por trabalhos e estudos atrasados e "embaçados" por problemas de saúde - graças a Deus, estou muito bem, após um semi-violento Covid e outros problemas de ordem médica e, digamos, pessoal. Quero apenas lembrar que o sábio é sempre o que sabe e quer ouvir, o que sabe que não sabe tudo conforme aprende, e procura aprender e repensar (parafraseando Aristóteles, o pai da Filosofia pós-moderna). A arrogância é o princípio da queda, e essa é uma Lei da Vida. O arrogante não ouve, quer ser o dono da verdade e manipular outras pessoas com falácias. 

Antes de mandar tudo às favas, respire fundo, que o dedo trema ao querer enviar uma mensagem indevida, a voz embargue, o coração martele  no peito; na dúvida, fique em silêncio. Seja econômico nas palavras, se possível até gentil. Aprenda com os erros e acertos dos outros, construa seu próprio "eu". Deixe que os maldosos, incoerentes e mentirosos caiam sozinhos que é como sempre acontece em algum momento. Não ande com eles.

A China não vem sendo, a meu ver, um bom exemplo para nós, país ditatorial que queimou igrejas  e crucifixos em 2021, adonando-se da OMS (EUA retiraram-se, sob ameaças chinesas a partir de acusações econômico-científicas) e espalhando fake news (absorvidas, algumas, até no Brasil) e supostos vírus de laboratório. Mas, da antiga sabedoria chinesa, vem um ditado que muito aprecio, com o qual gostaria de terminar este monólogo: "A palavra é prata, o silêncio é ouro". Além de ser aconselhável não sair falando da nossa vida por aí, a fim de a preservar e a nossos planos, é perigoso falar o que não se deve, falar sem pensar, sem base, ser mal-interpretado (o que sempre pode ocorrer), por melhor que sejam nossas intenções. 

O Brasil e o mundo hoje são uma homérica fogueira, e não falta quem "bote gasolina". Não seja dos que aumentam a destruição, mas dos que, ainda que compromissados com a busca pela Justiça e a verdade (verdades existem, nem sempre basta o ponto de vista), ajam com sabedoria, toda a compreensão possível e empatia. Você não é um rótulo ou um extremo, mas um ser ímpar e especial, infinito em suas possibilidades e caminhos a tomar.

Obs.: Não é o tom da voz, ou a quantidade de palavras, mas o teor do que se diz que importa. Respeito,  honra, autoridade, são conquistados pelo exemplo prático mais que pelas palavras. Pena que o Brasil adora uma boa lábia, desde o povo até os candidatos ao governo. E pior: são sempre as mesmas. As palavras. As atitudes.

Até logo!

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