"Discordo, logo, ofendo": a geração que não quer dialogar

Fonte: Divulgação

Já escrevi algo parecido por aqui. A ideia me veio ao deparar com uma tirinha, publicada pela própria Revista Projeto Autoestima. 

Lembrei-me de que é muito importante tratar deste tema, tão presente em nosso cotidiano, não apenas online, nas redes sociais - embora ali prevalente -, mas em nossa vida offline. Se é que a maioria de nós ainda tem uma vida totalmente offline. O fato é que: muita gente, talvez você e eu, estamos  acostumados a não conversar, não argumentar (exceto com a capa do desprezo, da arrogância ou do ódio), mas ofender ou até humilhar quem discorda de uma opinião ou posicionamento, notadamente político, clubístico ou pessoal.

Na tirinha que vi hoje, ocorre o seguinte diálogo: 

- Lembre-se: "Penso, logo, existo" (dito pelo filósofo Descartes, na imagem).

- Isso aí já era, descartes (Descartes). A moda agora é: "Discordo, logo, ofendo".  

"Descartes" surge em sentido ambíguo, fazendo referência ao filósofo Descartes e/ou ao verbo "descartar", e não se pode saber a referência principal escrita, pois as letras estão todas em maiúsculo). Descartar significa "jogar fora", algo bem propício à nossa época: o que não me serve, quem não concorda comigo, quem não compactua com todas as minhas vontades e pensamentos, jogo fora. A Modernidade Líquida de Bauman que escorre pelas mãos, instável, fluida, dinâmica, mas acima de tudo pendendo a uma desvalorização precipitada e até agressiva de pessoas - principalmente - e coisas. 

Enfim, quem utiliza as redes sociais com frequência, em especial Facebook e Instagram, está cansado de ver ofensas e desprezo, às vezes preconceitos descabidos, sem motivo, ou reações descabidas a preconceitos (combatendo o ódio com o "ódio do bem"). Qualquer coisa pode ocasionar uma grande discussão, as pessoas já vêm com quatro, seis, oito, dez pedras na mão. 

Pense: você já se sentiu ofendido ou já ofendeu alguém fazendo "tempestade em copo d'água", sem motivo? Pondere sua participação nas redes sociais. E fora delas. 

Não estou dizendo que não devemos nos posicionar, ter opinião - e humilade para a mudar, se acharmos necessário. Mas parece que a tendência, agora, é interpretar sempre com maldade, ainda que não haja - embora haja muita maldade, de fato. Já diz a Bíblia Sagrada: "Olhos bons veem coisas boas, olhos maus veem coisas más", e tem o ditado: "A maldade (e a beleza) está nos olhos de quem vê". 

É preocupante. Alarmante. Assustador.

Ameaças de processo, de violência física, palavras repletas de violência psicológica, bullying, "panelinhas" ou grupos (mesmo as tão agredidas minorias) se unem para "bater". Isso se comprova absolutamente no campo da política, com a extrema polarização que é só reflexo do 8 ou 80 presente na Nação brrasileira. E não escolher um lado extremo é ficar em cima do muro, ser fraco, e mais adjetivos que os agressores inventam, sem sequer conhecer a pessoa a quem se dirigem, julgando-a, rotulando-a por algumas palavras ou um posicionamento específico em relação a um assunto.

Quantas pessoas não acabam com problemas psicológicos devido ao bullying ou à incompreensão, à falta de empatia, quantas não pensam em tirar suas próprias vidas, em desistir dos seus sonhos (estamos no Setembro Amarelo, mês oficial de prevenção ao suicídio); e quantas pessoas, por outro lado, não se prontificam a fazer qualquer coisa, mesmo violência explícita, espancamento, calúnia, difamação, até assassinatos, para não simplesmente defender sua causa, mas protegê-la ao ofender e agredir o outro. Às vezes, eliminá-lo como ser humano.

A solução? Devíamos ser mais empáticos, mais compreensivos. Aceitar não significa concordar. E discordar não significa odiar. Estamos meio que à deriva, não concorda? Talvez por isso, pós-pandemia, e com a guerra na Rússia que reaviva a Guerra Fria Estados Unidos (capitalismo e liberalismo) X China (socialismo e comunismo, ainda que com um viés capitalista atualmente), e os extremismos políticos de Direita e Esquerda, e a divisão das sociedades em grupos não apenas diferentes, mas oponentes; talvez por tudo isso estejamos, no fundo, à deriva: à deriva de nós mesmos no mundo, na sociedade, em relação a nossa própria consciência.

Que tal começarmos a pensar mais sobre respeito, antes de o exigir? Ser mais gentis, antes de "exigir a (nossa própria) verdade"? Mais longânimos, menos irados, pessoas que pesquisam, avaliam fatos, não apenas lacram, lucram e "cancelam pessoas". Vergonha é não ser capaz de mudar de ideia, e não é motivo de orgulho não ser capaz de mudar de ideia, batendo no peito porque tem convicção de seus ideais. As coisas mudam, o mundo muda, as possibilidades mudam. 

Parafraseando um livro, "antes de enviar, respire fundo". Antes de enviar mensagens nas redes sociais, antes de responder olho no olho, antes de se achar o dono da razão e estigmatizar quem discorda, de forma deplorável e até desumana. Às vezes, não responder é a melhor resposta. Ou, então, apenas aceitar a opinião de quem, percebe-se, não está aberto a mudar.

Seja a diferença boa que você quer no mundo!

Pare de culpar os outros, o governo, o passado, e viva!

Um bom final de semana a todos nós!     


Comentários

  1. Olá, Leila! Como você está?
    Perfeito como tem que ser, um tapa para acordar aqueles que acreditam possuir a verdade absoluta. Enfim, um alerta para refletirmos que algumas coisas não existem o certo e o errado, o melhor e o pior. Mas sim, opiniões divergentes.
    E está tudo bem! Ou melhor, deveria estar.
    Gratidão por compartilhar.

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  2. Obrigada! Muito me faz feliz ver que posso contribuir com assuntos tão espinhosos. Somos todos irmãos, mas agimos como se não fôssemos.

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