Livro-reportagem de Fernanda Braite, Amadas acompanha a jornada de mulheres de uma mesma família, cujos destinos estão enredados em relacionamentos doentes; uma teia que parece ter sido estruturada antes mesmo de elas terem nascido e que prende não apenas as protagonistas do livro, mas todos à volta delas. Amor, intrigas familiares, crimes, traições, mortes, traumas e superação permeiam os caminhos dessa trama da vida real. A cada uma dessas mulheres cabe sustentar ou quebrar esse ciclo de relacionamentos abusivos. A obra - um lançamento da Primavera Editorial - destinará parte da renda obtida com a comercialização para o grupo Mulheres que Amam Demais Anônimas. A pré-venda da obra já está disponível no site da editora.
Resultado de uma série de entrevistas conduzidas por Fernanda Braite com mulheres de uma mesma família – que vivenciaram relacionamentos abusivos –, a obra traz um olhar empático, acolhedor e atento, costurando uma narrativa inspiradora; nos depoimentos, a descoberta de que, ao lidar com as próprias dependências, as mulheres começam a percorrer o verdadeiro caminho para a liberdade: que é ser amada por si mesma, como aponta o sugestivo título do livro.
Amadas acompanha a jornada de três gerações de mulheres de uma mesma família, cujos destinos estão enredados em relacionamentos doentes; uma teia que parece ter sido estruturada antes mesmo de elas terem nascido e que prende não apenas as protagonistas do livro, mas todos à volta delas. Amor, intrigas familiares, crimes, traições, mortes, traumas e superação permeiam os caminhos desse drama da vida real. A cada uma dessas mulheres cabe sustentar ou quebrar o ciclo de relacionamentos abusivos. O livro teve início com a proposta de Fernanda Braite de falar sobre o trabalho do grupo Mulheres que Amam Demais Anônimas; a partir daí, o acaso se encarregou de apresentar à jornalista uma grande história.
“Uma coisa que achei muito interessante é o perfil da mulher que ama demais. Tem-se a ideia de que a mulher independente é aquela que consegue fazer tudo sozinha, mas eu reparei – conversando com as frequentadoras – que é exatamente o contrário. As mulheres que mais apresentavam dependência de relacionamentos sabiam fazer absolutamente tudo; não delegavam nada. Zulmira, uma das protagonistas reais do livro, aprendeu a cozinhar, costurar, consertar carro, lavar roupa com soda, trabalhar como pedreiro. É uma mulher que consegue se virar em qualquer situação. Mas, não consegue sair na rua sem sentir medo. O motivo para saber fazer tudo isso é o básico e comum às mulheres dependentes de relacionamento: não saber dizer não. Assim, essa mulher aprende e faz tudo o que lhe pedem, mas não aprende a se sentir bem sozinha”, conta Fernanda, acrescentando que a MADA adulta vai procurar relacionamentos nos quais se sinta necessária como forma de suprir a sensação de rejeição. “Ela acaba buscando justamente pessoas parecidas com as que convivia na infância (violentas ou que abusem de sua ajuda) para reviver essas situações, na esperança de superá-las”, pontua.
Segundo Fernanda, quanto mais frequentava as reuniões do grupo Mulheres que Amam Demais Anônimas e mais lia sobre o assunto, mais ficava claro que o laço amoroso é fraco demais para suportar idealizações tão profundas quanto as que essas mulheres carregavam. “Zulmira, uma das entrevistadas, afirmou, com todas as palavras, que buscava no casamento o carinho maternal, paternal, familiar e amoroso. Todo o carinho que nunca teve. Essa falta, que abalou a autoestima dela e sobrecarregou o sentimento do marido”, conta.
Sobre o caminho narrativo da obra, Fernanda conta que a opção recaiu por produzir algo individual e, ao mesmo tempo, conectado, pois todas as vidas se entrelaçam. “O único capítulo a ter um nome masculino é o primeiro: Álvaro. Eu quis começar com a breve história de uma mulher anônima que, mesmo morrendo jovem, assim cruzou o caminho de um homem violento e o fez sair pelas estradas – o que influenciou a vida das minhas entrevistadas. O livro, depois, mostra a história e o desenvolvimento da dependência em Margarida, Zulmira e Valéria, até finalizar com Domênica, uma mulher que, apesar de tudo, mudou a rota e não desenvolveu a dependência por pessoas”, afirma.
“Da minha parte, posso falar que estou feliz por muitos motivos. Principalmente por poder levar a história de mulheres como Zulmira, Valéria e Margarida para outras pessoas. Para que as mulheres possam ver que, mesmo com toda a dor emocional passada na infância, com todos os abusos e as humilhações, tudo pode mudar se elas quebrarem o ciclo de dependência. Mesmo com toda a cadeia de sofrimento que a insegurança e o medo podem criar, isso não precisa ser eterno”, finaliza.
Em parceria com a jornalista Fernanda Braite, a Primavera Editorial está destinando parte da renda obtida com a venda do livro Amadas em prol do grupo Mulheres que Amam Demais Anônimas.
TRECHOS DA OBRA
Página 155
“[...] A filha mais nova começou a incentivar Zulmira a ir a um grupo de apoio para mulheres dependentes de relacionamentos chamado MADA – Mulheres que Amam Demais Anônimas. Achou que isso talvez ajudasse a, pelo menos, melhorar a autoestima da mãe.
Em poucas reuniões, Zulmira já havia entendido o ciclo emocional que criara para si.
– Eu encontrei você, eu segurei você com tanta força, porque eu queria ter o amor do meu pai e da minha mãe, dos meus irmãos, de todo mundo, através de você – disse para Fábio. – Eu fiz tudo errado.
E a culpa voltava a recair, de qualquer maneira, sobre ela. Pois saber que estava se comportando de forma errada consigo mesma era bem mais fácil do que realmente começar a agir da maneira certa.
Zulmira ainda está casada com Fábio, ainda cuida de tudo da casa, ainda é humilhada por ele e pela sogra. É seu círculo vicioso.”
Página 158
“[...] Ele nem ao menos considerou o absurdo de a esposa estar pedindo desculpas por ser menina. Aquela frase representaria em dobro o sentimento de inferioridade das mulheres de sua família. Primeiro, porque ela se sentia culpada por algo sobre o qual jamais teria controle. Mas se alguém tinha que ser culpado, era a mulher. E, segundo, que aquela culpa se dirigia ao fato de ter nascido uma menina.”
Página 170
“[...] Domênica lembra que ia na casa da tia Brigitte, que também era casada com um homem que colocava suas prioridades acima de coisas primordiais. A tia, com medo disso, estocava comida embaixo da cama, para qualquer época que ficassem com dificuldade financeira extrema. Como não tinham filhos, a tia dava feijão enlatado e
comida para as sobrinhas.
Domênica achava aquelas atitudes do pai e do tio extremamente egoístas. Mas parecia ser a única, entre todas da família, a achar aquilo um absurdo.”
Página 172
“[...] Antes de tudo isso, Domênica não aceitava sua condição feminina. Não queria ter seios. Ela sentia que precisava esconder aquilo. Usava várias blusas, o máximo que conseguia.
Domênica achava que havia ficado com a mensagem que o pai passou quando era criança na cabeça: ela era o Décio. Talvez também o fato de não querer seguir o
estereótipo das mulheres da família a deixasse com vontade de não ser mulher.
Só se sabe que a mãe precisava ir à costureira para fazer blusas largas o suficiente para que os seios da filha não aparecessem sob a roupa.”
FICHA TÉCNICA |
Título: Amadas
ISBN: 978-85-5578-103-2
Autora: Fernanda Braite
Categoria: Não ficção | Livro-reportagem
Páginas: 284
Preço sugerido: R$ 54,90
Sobre o grupo MADA | Mulheres que Amam Demais Anônimas é uma irmandade feminina que foi criada com base no livro homônimo de Robin Norwood e com adaptação do programa de recuperação de 12 passos adotado pelo Alcoólicos Anônimos (AA). Sem fins lucrativos e gratuita, essa articulação possui um único requisito para aceitar membros: o desejo da mulher de evitar relacionamentos destrutivos.
Sobre a autora | Fernanda Braite é escritora, jornalista formada pela Universidade de São Paulo (USP) e mestre em Literatura e Crítica Literária pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP). A autora já participou de antologias como “A máscara de prata”, “A cadeira de balanço” e “O melhor do terror nacional”, tendo este último lhe rendido menção honrosa do prêmio Aberst pelo conto “Marina”. Atua como repórter freelancer e professora de literatura. Mora em São Paulo, ama comida japonesa e tem quatro gatos.
Sobre a editora | A Primavera Editorial é uma editora que procura apresentar obras inteligentes, instigantes e acalentadoras para a mulher que busca emancipação social e poder sobre suas escolhas. www.primaveraeditorial.com
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