Gente CHATA na Internet: a geração mimimi


Fonte: Divulgação

Quem, hoje em dia, tem coragem ou hábito de expor sua opinião, ainda que de maneira respeitosa, retórica, argumentativa, reiterando seu ponto de vista, está lascado. Existe muita gente chata, principalmente na Internet. 

Um elogio é por certo uma ofensa a alguém. Uma crítica, um sinal óbvio de ódio, descalabro, desinformação. Há as hordas de policiais das redes sociais, e é nelas que pretendo focar: sempre vigiando qualquer palavra dúbia, qualquer oportunidade de diminuir uma pessoa que se destaque, mostre outra visão, traga uma discussão (de forma pretensamente saudável) à baila. O pensamento correto, e o único, é o das hordas, milhares de "vikings" procurando dente em galináceos. 

É muito ódio, intolerância, alienação, falta de empatia, e é muita inveja (sim, Leandro Karnal, muitas vezes é "inveja", que é um tipo de ódio ao outro e a si mesmo ao mesmo tempo, não é necessário ser Karnal para sofrer de inveja, basta dizer o que pensa e pensar). 

No Brasil, em que se repetem muitos bordões e grande parcela da população é, estatisticamente, analfabeta funcional (não entende o que lê), em que é "você contra mim" e não você e eu divergindo em um ponto específico ou em um modo de vida, é isso aí: mimimi. Reflete na polarização política, social - minorias combatendo "ódio com ódio", o que, de qualquer forma, gera mais ódio. 

Logo nós, que vivemos na Pós-Modernidade, Modernidade Tardia, Pós-Capitalismo, Era Digital das múltiplas possibilidades e identidades. Logo nós! Esqueceram-se de que a natureza humana pouco mudou durante os milênios, o que mudou foram algumas características físicas adaptativas e as ferramentas. Algumas delas despertam o pior lado do ser humano, tornando-o mais acomodado, egoísta, dono da verdade, não empático, pedante, prepotente, e, mesmo com tanta informação, pouco seletivo em relação a ela (a chamada "geração Nutella" por muitos). O negócio é lacrar e ganhar likes - reunir adeptos para, não só contrariar o "intruso" opinando, mas achincalhá-lo, se possível. 

Em resumo, as pessoas estão muito CHATAS! Simplesmente isso. 

E até me incluo neste contexto, vezes em que me deixei levar por essa maré de banalidades que se tornam tempestades, conversas que se tornam ofensas, opiniões que se tornam punhais. Resiliência, cadê? Respeito, cadê? Empatia, sempre, cadê? Só se a opinião do outro for a minha, ou se sua opinião não incomodar meu ego tão precioso e intocável.

O pior é a hipocrisia. Muitas vezes, quem mais fala em paz, aceitação, amor e tolerância, é quem menos age de acordo com essas premissas. Viva o país da hipocrisia! Do jeitinho brasileiro: falei, não fiz, fiz, não falei, faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço. 

Para terminar, vou ilustrar uma situação que considero, olhando agora, ridícula, e creio que expresse bem o que descrevi acima:

Era uma postagem em um perfil de um fã-clube da Ana Paula Arósio, mostravam duas fotos recentes da atriz: uma maquiada, deslumbrante, rindo; outra, em preto e branco, provavelmente sem maquiagem, séria, o rosto, a meu ver, coberto por uma nuvem de cansaço ou tristeza, e a crueza da essência que hoje poucos se atrevem a mostrar em fotos e vídeos na Internet dos filtros. Não é que tive a ousadia de comentar que, na segunda foto, Ana Paula parecia cansada e mais envelhecida? Pronto. Uma horda de juízes vikings doutores em Filosofia da estética e protetores das minorias - não sei quais - vieram me atacar; que ela é bonita mesmo assim, que eu estava sendo preconceituosa, que Ana Paula não merecia isso, que eu devia me olhar no espelho, teve até o que considero um narcisista doentio vindo no meu perfil dizendo que "fez questão de vir no meu perfil para conferir a 'beleza' de quem fez o comentário". Depois, continuou me atacando de forma pessoal. Ele, que não era, mas se achava, A MEU VER, um exemplo de beleza, objeto de inveja, e ainda disse que eu tinha cara de pobre. Sabe nada da minha vida, meu amor. E não vou expor minha vida pessoal, não, cão que muito late e não morde. Assim, naquela postagem, tão simples, muitos me julgaram, exceto uma sensata internauta que me disse que "não havia nada demais, ela parecia envelhecida e cansada mesmo". Senti as chamas bruxuleantes da fogueira da Inquisição da Era Digital, sem saberem que sempre fui fã da Ana Paula Arósio, tanto que sigo aquele perfil em sua homenagem, sempre a achei linda (e se não achasse? meu direito), e envelhecer, sentir-se cansada inclusive, é normal, não é ofensa. Tive de apagar aquele comentário sucinto e deixar outro, manifestando minha insatisfação com o julgamento excruciante e falso sobre mim em relação à Ana Paula Arósio, ódio infundado, munido de ofensas pessoais e adjetivos de pessoas que nem me conheciam, achavam que poderiam me colocar em rótulos como elas se colocam. 

Outra: comentei que não gostei da atriz da Wandinha do seriado homônimo que estreou na Netflix. "Não gostou? Faz melhor", tive de ler. Mal acreditei.

O mundo está repleto de narcisistas, egocêntricos, rasos, inexoráveis, intolerantes, hipócritas, alienados, inundados de ódio, como sempre esteve (cuidemos para não ser um deles). Mas hoje a Internet é seu refúgio máximo, atrás de uma tela que edita tudo e não tem "olho no olho" nem expõe o que não se deseje expor. Gente que fala demais e "ouve" de menos, gente patrulhando, procurando motivos para destilar sua amargura, seus preconceitos, seu narcisismo ou a necessidade de esconder a baixa autoestima. Resumindo: GENTE CHATA. Não sejamos. 

Como diz o ditado: "Gente feliz não enche o saco". 

Não estou dizendo aqui para concordar com tudo, não emitir opiniões muitas vezes polêmicas - mas que difícil saber quando vale a pena se posicionar, e como colocar as palavras de uma forma que não pareça tão agressiva à maioria. Teve gente bem famosa me mandando "tomar no ..." - e à época eu tinha razão em minha opinião, aliás, que eu me lembre muitas vezes em que isso ocorreu, o tempo me deu razão, embora eu não seja a dona da razão nem queira ou possa ser - ah, a gente quer, sim, mas tem é de ter humildade e saber silenciar.

Vamos ser mais felizes, cuidar mais das nossas vidas, sem deixar de opinar, com respeito e sem ofensas pessoais. Opinião se dá com argumentos, não com ofensas. Que coisa esdrúxula! - como citou certo advogado X, do Xquistão, em relação a um processo que, ao que parece, apenas folheou em alguns minutos. As pessoas estão "apenas folheando" e dizendo: "Esdrúxulo!". Esdrúxulo para quem, você? Existem cores nas pessoas e nas coisas, quem enxerga em preto ou branco, apenas se limita infinitamente. 

Mimimi, gente chata, gente hipócrita sempre existiram. E o pior: são muitos. E pior ainda: repetindo, se não nos cuidamos, acabamos nos tornando um deles, plenamente inseridos em grupos tóxicos e espinhosos de gente frustrada, arrogante e, na maioria das vezes, por mais que tudo indique o contrário, infeliz - "diga-me com quem andas".  

Permanecer em equilíbrio emocional é difícil nestes tempos, ainda mais no Brasil convulsionado, explorado, censurado. Utilizar o silêncio como resposta, a atitude e a conquista como triunfos, com paciência e talvez, se necessário, uns comprimidos de Rivotril, uns saquinhos de chá de camomila, tudo bem. 

Eu não sei o resto do mundo, mas o brasileiro está muito CHATO! Desculpem-me aqueles com quem pareci ser uma mala sem alça. Ou, bom, fui realmente.

Seja chato com você mesmo: dos outros, não exija tanto. Selecione as pessoas que cabem ou caberão em sua melhor versão. Não é necessário "gritar", apenas ter princípios e alguma inteligência emocional. E, principalmente, não ser uma mala sem alça, junto a outras malas sem alça que acabam com uma úlcera no estômago - o seu e os das pessoas com quem se digladiam para se autoafirmar. 

Se beber, não dirija. Se se irritar, não fale. Faça. É muito melhor se precaver, e assim você não deixa dúvidas nem discussões inúteis tomarem seu tempo e sua saúde mental e física. Em vez disso, você vai lá e vive o que fala, você cresce, atinge outro patamar onde pessoas mesquinhas e chatas nunca vão estar.

Bom fim de semana!

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