O tapa da realidade: cair, cair, cair e se levantar sempre

  

Fonte: Divulgação

Muito se fala hoje em "otimismo", "pensar positivo", "amor-próprio", "good vibes", "Lei da Atração", "seja você mesmo", "quem não desiste consegue" etc. E longe de mim querer jogar um balde de água fria em todas estas (necessárias) proposições e teorias, empíricas também. Longe de mim. Mas, se algo tenho aprendido é que, mais importante que uma vida "dos sonhos", feliz e abundante em todos os sentidos, repleta de positividade, é aprender o equilíbrio. Basicamente, aprender a lidar com situações negativas tanto quanto positivas.

Stephen Hawking (in memoriam), muito após a constatação botânica de Darwin, e antes da inteligência emocional de Goleman, uma teoria revolucionária que mostrou a importância da saúde e autocontrole mental na vida; Hawking disse: "Inteligência é a capacidade de se adaptar às mudanças". Até me arrepiei. Gente, é isso! Era esta frase que eu buscava.

Estes dias, falava com a minha mãe, diagnosticada com QI altíssimo em provas de Psicólogos dos anos 1970 e 80, que a verdadeira inteligência, e a que importa, é: a inteligência (ou seria capacidade?) de se adaptar, compreender, aceitar o imutável, mudar o mutável, perdoar(-se), ter organização, física e mental. Uma série de pequenas atitudes que nos levam à adaptação, a nossas próprias mudanças, à passagem rápida do tempo, à sociedade - nunca tão fluida, dinâmica e na qual só os resilientes, mas adaptáveis (e adaptação não deixa de ser resiliência) sobressaem. 

Não que seja fácil. 

A flexibilidade pode e deve ser aprendida, e de maneira constante. E, ao mesmo tampo, ter suas raízes, seus princípios, sua essência. Achou difícil separar uma coisa da outra? Eu também. Até porque não é fácil. Como não é fácil dividir a opinião do julgamento. Jesus Cristo disse para não julgarmos para não sermos julgados, e que, com a mesma medida que julgarmos, seremos julgados. Acho que, nisso tudo, o mais importante é focar no que podemos fazer para ser o melhor de nós mesmos, tomando bons e maus exemplos como guias, e ao mesmo tempo focando em nossa própria unicidade, nossa "missão", nosso propósito de vida, nossos sonhos, objetivos e - por que não? - desejos. 

Mas, aonde quero chegar? Por que falei tanto em coisas desanimadoras no primeiro parágrafo, em especial?

É que, calma. Tenho percebido, e você não?, uma onda, bastante "capitalista", de otimismo exagerado, que acaba deixando muitas pessoas frustradas. Vende livros, vende filmes, é necessário para que "a vida não nos destrua". No entanto, o que temos falado sobre cair e se levantar mil vezes, e sobre o fato de que vamos cair muito mais que levantar, que redes sociais são uma enganação, em maior ou menor grau, baseadas em vidas (fotos e vídeos) editadas. Sobre a constatação de que "a história das nossas vidas é a história das nossas perdas", sobretudo, e essas perdas vão nos endurecendo ou amolecendo, conforme a pessoa, com o passar dos anos. 

A perda de nós mesmos, que vamos definhando fisicamente. E, se não houver cuidado, mentalmente também. 

Levantar-se é mais importante que cair. Você vai cair muitas vezes na vida. É bom ir se acostumando. Não se acomodando.

Resistir, que não ter incomodações (e ligar o "foda-se", esquecer os problemas, andar com leveza pura). Não, o mundo não é leve. A vida jamais será leve, a não ser para quem a viva muito na superfície - o que não é raro. Será leve e extremamente feliz em alguns momentos. E poderá, sim, resultar em uma felicidade, sempre interrompida, é claro, por tristezas contínuas ou repentinas. Raiva, rancor, ego ferido, inveja, nossa e dos outros, comparações. Impossível não nos compararmos com outros, como muitos pregam, somos seres sociais. Agora, ser peculiar e tornar a comparação em inspiração - negativa ou positiva - é bem importante, penso eu.

Observei que a grande maioria das histórias das pessoas de sucesso, aquelas que não foram por caminhos mais fáceis ou ilícitos, têm uma história de superação e dor. Quase sempre começou na infância. Porém, aí estão Oprah Winfrey, que se vestia de panos de sacos, negra em um país ainda sem piedade dos afrodescendentes. Barack Obama e Michelle Obama. Gisele Bûndchen, que ouviu que seu nariz nunca a faria capa de nenhuma revista. Madonna, que fugiu de casa bem cedo, do pai violento e alcoólatra, para começar como vendedora do McDonald's. 

Não que todo mundo tenha de começar de baixo. Mas, sem dúvida, isso ajuda a criar humildade e a dar valor ao que conquistamos, bem como a aqueles que nos ajudaram, ajudam e estão do nosso lado. No fim, sobram poucos que realmente se importam com você. Então, aja, faça, vá em frente das suas próprias sombras do passado e presente!

Vou finalizando uma prolixidade que me incomoda em mim mesma, com minha recorrente citação a Clarice Lispector. Ela compreendeu. Não sei dizer coisa semelhante, então:

“Amanheci em cólera. Não, não, o mundo não me agrada. A maioria das pessoas estão mortas e não sabem, ou estão vivas com charlatanismo. E o amor, em vez de dar, exige. E quem gosta de nós quer que sejamos alguma coisa de que eles precisam. Mentir dá remorso. E não mentir é um dom que o mundo não merece."

Lembrando que mentir para si mesmo é sempre a pior mentira (Renato Russo).

Bom final de semana! Com muito equilíbrio, mesmo na corda bamba que é nossa vida.

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