O conta-gotas e a chuvarada: amor e paixão

 

Imagm: Divulgação

O tema universal da arte, do mundo, é o amor. 

Apesar da prevalência do dinheiro no mundo, chamado na Bíblia Sagrada de "raiz de todos os males" (nesse caso seria o amor ao dinheiro, visto que o poder financeiro pode nos fazer mais felizes e ajudar muita gente necessitada, por exemplo). 

Só que, o que é muitas vezes chamado de amor, por diferentes culturas, é na verdade paixão.

O amor é raro. E todo mundo tenta explicá-lo. 

Estive pensando sobre o assunto, e me peguei retornando ao meu primeiro romance, Reencontro, do final de 2011. Descrevi o amor como "um barquinho em um lago calmo", e a paixão, uma tempestade em alto-mar. Não que, no amor eros, de casal, não haja paixão e vice-versa. Não que o amor seja aquele idealizado; nunca, somos falhos demais para isso. Amor é dia a dia, vida a vida, é sim sofrimento e sacrifício, por vezes, mas, sobretudo, paz afinal.

Do pouco que sei do amor, talvez quase nada (como a maioria de nós), comparo-o a um conta-gotas, que vai preenchendo pouco a pouco o coração. Espalha-se por cada cantinho, cada lugar obscuro em nossos labirintos densos, revela-nos a nós mesmos, faz-nos querer ser melhores, genuinamente. 

Já a paixão, pura e mais frequente, inclusive muitas vezes é conectada ao extremo com o sexo e a carência, ou até ao narcisismo. (Calma, sexo com amor é excelente! Simplesmente por ser com quem se ama. E o amor é cura para a solidão crônica.) Vejo a paixão como uma chuvarada no coração. Aquele esguicho constante, que nos leva a momentos de êxtase e vazio profundo alternadamente. 

Médicos já compararam a paixão ao efeito da cocaína, quimicamente falando. Paixão, com ou sem amor, é química. Não significa que possa ser sempre reacendida. Amor é espírito. Transcendental. Essa é a diferença. 

Há quem passe por esta curta vida, dos 10 aos 100 anos, sem nunca ter amado de verdade. Há quem tenha a sorte de o encotrar. "Só se ama uma vez". Balela, acho eu. Mas, diamante raríssimo que é, encontrar o amor, ainda mais quando se tem o coração fechado e a racionalidade esmagadora, é difícil. As pessoas nem se dão, muitas  vezes, ao trabalho de o procurar. Estão ocupadas demais."Ah, o amor vai me encontrar quando eu menos esperar." Pode ser. Mas pode ser que você tenha de agir, observar, que ele esteja perto de você e você nunca tenha visto, desistiu muito cedo ou nem começou nada - acontece muito nas comédias românticas, como em "De repente trinta".  

Acredito piamente que o sentimento que mais se aproxima do amor, em todas as suas formas, é o carinho. O bem-querer. A benignidade. Ainda que haja instantes de emoções negativas. 

Você acha que já amou de verdade?

Lembrando que, para amar de fato, você precisa se amar primeiro, o velho clichê. Não se dá o que não se tem. Ser amado pode fazer com que você aprenda a se amar, mas é mais simples começar, hoje mesmo, a se amar mais, cuidando-se física e mentalmente, considerando-se um alguém que outro alguém espera para se completarem. Duas pessoas inteiras que se complementam. Não com perfeição. Menos exigência. Que o amor é esquivadiço, a gente lhe faz casa e ele nasce no jardim (Mia Couto). É imprevisível. 

Amor é o que falta neste mundo. Amor é salvação. Cura. Paciência. Renúncia. Mudança. Carinho.

Amor é se encontrar no outro. Algo que lhe faltava, ou que você nunca teve, ou perdeu. 

Não espere dez, vinte, trinta anos para ter certeza: "Ele [o amor] veio tão de leve que não vi...". Enxergue o que não se vê, com o Pequeno Príncipe.

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