Barbie não é um filme tão "cor-de-rosa"

 

Filme Barbie. Imagem: Divulgação.

Com orçamento de 100 milhões de dólares, não se fala em outra coisa nos últimos tempos, ao menos no Brasil: o filme Barbie, cujo tema e personagem principal intitula a obra. A sinopse é mais ou menos assim: Barbie, que vive no mundo perfeito da Barbilândia, depara com suas imperfeições e se vê obrigada a deixar sua terra mágica das bonecas para enfrentar o mundo humano com seu par, Ken. O filme viralizou como poucos na história do Cinema, muita gente comentando, rosa é a cor do momento para mulheres, homens, pets, héteros e LGBTs. A princípio, o filme soa como uma comédia hollywoodiana leve e clichê.

E pode ser que seja. Mas, para mim, não é este o "mote" principal do longa da Barbie. Se for ver, a obra fala sobre coisas mais profundas e sérias: o mundo da perfeição (ou quase isso), por exemplo, o das telas, editável, das redes sociais, as personagens que criamos na Era Digital, agora Era da Inteligência Artificial (IA), a necessidade de sobressair, de ostentar, de sermos "Barbies e Kens" na Barbilândia dos pixels. E o que acontece com a Barbie, em seu filme? Ela se vê imperfeita, e, com Ken, seu parceiro, tem de "enfrentar o mundo humano", o mundo real, que não é tão "cor-de-rosa". Enfrentar a si mesma, refletir sobre sua vida, sobre o que realmente importa. 

O glamour e o status de Barbie e Ken, que "povoaram" a infância de muitos de nós, acaba "caindo na real" - embora não se perca, de fato, o glamour "barbieano". É um convite à autorreflexão, ao autoconhecimento, a aceitar a ideia de que não basta viver de aparências, de que a perfeição não existe - nem física, nem em nenhum sentido, embora devamos sempre buscar melhorar como pessoas, interna e externamente. 

Resiliência, humildade, dedicação, a vida real e nem tão cor-de-rosa é sobre isso. Principalmente o mundo fora das telas, que é o que acontece quando estamos realmente vivendo. 

Somos parte de uma geração de "semideuses", em que a perfeição é buscada na estética e até no emocional. Não se pode não ter nada pra fazer, não registrar o que está vivendo a todo momento, não estar ou não tentar estar "no padrão", que muda velozmente. E se deve glamourizar o cotidiano, "inventar" uma vida que, na verdade, não existe, pessoas idolatradas, altamente competitivas, incansáveis, esgotadas - mas os filtros, os memes, as frases-feitas, sempre atualizados. A vida, editada. E até o internauta passa a internalizar, mas não é o que é de verdade, talvez o que acha que esperam dele ou dela, o que querem que pensem.  

Não quero ser rebugenta, embora, talvez, esteja sendo. 

Penso que, hoje, tudo acontece tão rápido e muitas vezes não nos permitimos refletir sobre quem somos, do que precisamos, o que queremos. Não nos permitimos sofrer - só se for com "espetacularização", de preferência. E há uma "positividade  tóxica" - além da positividade necessária e compartilhada no dia a dia, nas redes sociais, e que, sim, ajuda a muitas pessoas. Mas, como seria viver sem a necessidade de mostrar, ostentar e se adequar o tempo inteiro, esperando aplausos constantes e crescentes, curtidas, elogios, notoriedade?   

A vida, penso eu, é muito mais sobre sentir e ser, aqui dentro de nós, que aparentar ou buscar a perfeição impossível. Estar o mais próximo possível do padrão - em todas as camadas de padrão que não param de "girar". Quantos acabam frustrados por não se encaixarem, por sustentarem aparências, mas, no fundo, suas imperfeições têm de ser escondidas. Não à toa, casos de ansiedade, depressão e até suicídios só aumentam, especialmente no Brasil e na América Latina.

Você, eu, será que não precisamos sair da nossa "Barbilândia" e encarar algumas coisas em nós mesmos e na nossa vida?  

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