É de praxe da natureza humana que, quanto mais informação (ou conhecimento, afinal, são coisas diferentes) adquire, mais uma pessoa tende a se tornar prepotente, pedante e cética quanto ao que não compreende ou o que parece colidir com o que aprendeu. Nada contra a crença ou descrença de cada um de nós, mas, acho que por isso temos tantos niilistas, tanta "filosofia barata" e incoerente diante da realidade "nua e crua". Quase todo mundo tem suas fórmulas inabaláveis, e sua "resiliência" em não mudar de opinião. Quer dizer, parece-me que está faltando Humildade Intelectual.
"Humildade intelectual" é um termo que eu procurava, sem saber como se escrevia. Ouvi a expressão de um filósofo e escritor que aprecio bastante, Mario Sergio Cortella. Embora queira conhecer bem mais do seu trabalho, tanto impresso quanto oralizado em palestras e cursos. Mas, voltando à Humildade intelectual: explica Cortella, significa sempre querer aprender mais, e estar flexível a isso. Inclui mudar de opinião, de direção, mudar a si mesmo. Rever conceitos. Cortar raízes, talvez, se necessário: podem ter sido incrustadas em lugares ou pessoas errados.
Humildade Intelectual vai de encontro a empáfia, arrogância, "síndrome do super-homem", inabalabilidade, inexorabilidade, clichês repetitivos, predileção de grande parte dos nossos "intelectuais" de hoje, ao menos no Brasil.
"Quanto mais sei, mais sei o quanto não sei." Não quer dizer que eu não tenha evoluído, aprendido, crescido com o que apreendi. Apenas, sei o quanto posso aprender e me aprofundar, e que não tenho a razão em minhas mãos sempre, e não há problema nisso. Agora, até que depare com argumentos que considere sólidos, pois sempre continuarei a questionar, vou proteger minhas convicções. Não sou pedra imóvel, tampouco vento volátil.
Voltando ao Cortella. Humildade Intelectual, para Cortella, envolve três pilares básicos: adquirir conhecimento continuamente, praticar o conhecimento ou o que prega, e partilhar esse conhecimento para benefício do mundo e das pessoas, na tentativa de, ao menos, acrescentar algo - "pensar fora da caixa". Destes, o pilar mais importante é, ainda segundo o filósofo de descendência italiana, adquirir (e buscar) conhecimento (informação). Indagar. Procurar. Problemas? Não, compreensão, equilíbrio, empatia, autoconhecimento, evolução como ser humano. Indagar. Como já disseram por aí, as perguntas, muitas vezes, são mais importantes que as respostas (Mário Quintana).
Que admiração tenho, cada vez mais, por aqueles que, não apenas por necessidade de empatia midiática, ou marketing pessoal, realmente querem fazer de seus conhecimentos uma forma de ajudar, e querem partilhar, e estimular a busca de propósitos de vida.
Cortella fala ainda em "pessoas excelentes". Falamos muito em "excelência" hoje. O que é uma pessoa excelente? Para Cortella, não são as que têm mais e "melhores" diplomas, um currículo Lattes mais extenso, mais experiências, mais projeção, mais bem-sucedidas socialmente. São aquelas que têm Humildade Intelectual. Não disse modéstia intelectual, mas humildade. Esta humildade é, e só pode ser, uma trajetória em direção à excelência pessoal. "Excelência" vem do latim excel, que significa "ir além do óbvio, do possível, da obrigação". "Excel", por sua vez, enraiza-se no grego antigo kairos, palavra que denota "empatia". Empatia é se doar, compreender, esforçar-se para isso. Empatia mental não serve para muita coisa, necessita de ação.
Pessoas excelentes têm Humildade Intelectual (assim, com iniciais maiúsculas, como um termo cunhado, mas aberto a abstrações e conceituações). Não são as melhores, do ponto de vista social, cultural, filosófico, catedrático. São as que têm um propósito de vida com seu conhecimento, sua sabedoria, suas ações, e esse propósito sempre envolve dividir o que são e o que sabem, e a busca do saber como evolução pessoal.
Você não precisa ser o Pe. Fábio de Melo, Pedro Bial ou Cortella para ser excelente: parece que o mais vital aqui são os três pilares da Humildade Intelectual (e da excelência humana) acima citados: buscar, praticar, partilhar. Ter um propósito de vida, ou buscá-lo, ajudar os outros a o encontrar. Sem propósito de vida, toda ação gera apenas estresse e "correr atrás do vento"; com propósito de vida, no máximo, cansaço pelo esforço bem direcionado. A direção é mais importante que a velocidade (Clarice Lispector).
Não é fácil ser excelente. Nem humilde, quanto mais adquirimos conhecimento, informações e status na sociedade. Mas, como as melhores coisas e as melhores pessoas da vida, ser excelente, e ter Humildade Intelectual, é simples. Tão simples que poucos conseguem enxergá-la diante dos olhos - estão procurando a resposta nas estrelas, ou nas profundezas do mar.
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