7 de setembro: podemos nos vestir de verde e amarelo?


Hoje é o Dia da Independência do Brasil, 7 de setembro de 2023. Há algum tempo, às margens plácidas do Ipiranga, um povo heroico e retumbante viu o Sol da Liberdade, em raios fúlgidos, brilhar no céu da pátria. Em primeiro lugar, ao contrário do que o título possa sugerir, não quero recorrer a um tom majoritariamente político. Mas este é, que eu me lembre, o 7 de setembro mais triste que já vi.

Ontem cantei o Hino Nacional com adolescentes alunos, professores e diretores de uma escola estadual. Boa parte deles sabia a letra, ou boa parte da bela letra de um dos mais belos hinos do mundo. Alguns entoavam com emoção - como eu. Mas, hoje, me sinto triste.

Conseguiram - não quero culpar a ninguém, mas é fato observável - tachar nossa bandeira de "bolsonarista" ou, quem veste verde e amarelo, de "inimigo da democracia" ou fascista, nazista - sei bem o que é ser acusada disso, apenas por ter descendência alemã, por gente desconhecida que nem sabe que sempre tentei proteger as minorias.  

Falando em democracia, palavra tão cara ao nosso povo em geral, talvez o Superior Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) possam nos dizer algo sobre democracia. Eles que têm decidido questões fundamentais para o país e foram indicados pelo atual presidente e seu partido, majoritariamente; quando a legisladora oficial, segundo a Constituição Federal, é a Câmara, diretamente eleita pelo povo. Democracia, em sua etimologia, é "governo que vem do povo". Cadê a participação direta do povo nas indicações do STF e TSE e suas subsequentes decisões? Apenas para reflexão. 

Mas ok, eu disse que não queria um tom político. E não, não me coloco aqui como de um extremo ou de outro na esfera política tumultuada do Brasil. Só acho triste ver que o orgulho (ou, para muitos, a vergonha) de ser brasileiro foi "encarcerado" em extremismos ideológicos. Bandeira vermelha ou do Brasil. Lula ou Bolsonaro. Quem não toma partido, está em cima do muro - imagine pensar "fora da caixa" e querer ir além da dicotomia da moda. O ódio, a vingança, o desprezo às ideias e ao posicionamento alheios reina. Nós que tanto falamos em 1964, não estamos armados demais para isso, povo e governo? E incisivos demais em nossas decisões, muitas vezes sem base jurídica ou prática?

É, eu disse que não queria falar de política, mas não deu.

Tenho medo de vestir verde e amarelo, de ostentar uma bandeira e ser chamada de "minion", nazista, ou identificada politicamente sem fundamentação. Mas hoje seria o dia ideal - como todos - para vestir verde e amarelo. Só que tem outra coisa: eu não sinto vontade de vestir verde e amarelo hoje. Não acho que nossa Constituição Federal, uma das mais liberais do mundo, embora manchada por atrasos como, por exemplo, a abolição da escravatura; não acho que nossa Constituição esteja, na prática, permitindo as liberdades (legais) a que se propõe. 

Até o futebol, no País do Futebol, vai mal, masculino e feminino. Esta é a verdade. E até ali a corrupção se instaura, como na Operação Penalidade Máxima.

Ainda sobre a bandeira do Brasil e a data de hoje, lembro que alguns membros de minha família saíram do grupo do nosso "clã" no WhatsApp, apenas porque um membro postou uma bandeira do Brasil. Se não me engano, foi no dia 7 de setembro. Sentiram-se ofendidos, por se identificarem com a bandeira vermelha. Chegamos a este ponto. Hoje, alguns destes que saíram do grupo falam por aí, segundo sei, em "direitos humanos" e liberdade de ser quem se é. Mas o que eles aceitam, que tipo de reflexão se dipõem a ter? Todo extremismo é cego, não vê nuanças. 

Porém, somos um país de hipócritas - nem todos hipócritas - e incoerência - nem todos incoerentes. 

Acredito que muitos de nós estejamos um pouco tristes com desmandos, extremismos e ódio, além da corrupção endêmica e da situação econômica e social do Brasil. Como na antiga música de Zezé Di Camargo e Luciano, "Meu País": "Se nessa terra tudo que se planta dá/Que é que há, meu país?/O que é que há?". O que há? Até o direito de propriedade privada foi relativizado pelo STF, então a terra, teoricamente, só "dá" se tiver "função social", em uma visão arbitrária de um conceito indefinido, ou definido ideologicamente: "função social". 

Hoje, vou vestir preto.

Não é dia de comemorar, ao menos para mim e para muitos de nós. Não quero meu país de volta - quero o país que nunca tivemos, nem perto, um país que poderia ser o mais próspero do mundo com suas riquezas naturais. 

Mas o povo passa fome, ganha pouco, tem seus benefícios cortados continuamente, é ameaçado pelas instituições políticas superiores ao se exprressar, "pelo bem do país" (querem uma comissão politicamente idealizada para definir o que são "fake news"). Enquanto temos hoje a máquina estatal mais pesada (numérica, e, acredito, financeiramente) do planeta, com benesses aos políticos que só aumentam, milhões comem farinha com água e vivem apenas de um auxílio chamado Bolsa Família cujo valor foi drasticamente cortado em relação ao ano passado, assim como verbas para a Educação - base de uma nação -, Saúde e pesquisas. 

O que há, meu país?

Alguém se importa em não apenas ter razão? Em salvar nossa nação? Em querer vestir verde e amarelo com orgulho, e não apenas como protesto? Em estudar as Leis de nosso país, e não apenas decidir conforme ideologias "inabaláveis"?

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