Quanto mais tempo de tela, (crianças) menos inteligentes e menos humanas

 

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Vários estudos têm solidificado a teoria de que o apego excessivo a telas (de celular, principalmente) é capaz de modificar estruturas do cérebro. Notadamente nas crianças pequenas, em quem a personalidade e outras características neurológicas fundamentais estão em total formação. Neste contexto, especialistas têm apontado o fato de que "quanto mais tempo de tela, crianças se tornam menos inteligentes e menos humanas". Parece trágico. Devemos nos preocupar com a "Era das Telas".

A Era das Telas, como vou chamar, produz, muitas vezes, "zumbis". Não apenas crianças, mas adultos.

Antigamente, a televisão era a grande vilã, "lobotomizava" as pessoas, fazia lavagem cerebral - uma tela que sempre foi fonte de entretenimento e aprendizado, mas demonizada. "A televisão me deixou burro, muito burro demais, agora todas coisas que eu penso me parecem iguais", já dizia a canção "Televisão", dos Titãs, sucesso há alguns bons anos. 

Imagine que agora, além da tela da TV, imperam telas de computadores, tablets, relógios inteligentes e, principalmente, smartphones, dentre outras. A televisão, cada vez mais, vai perdendo espaço para telas menores, transportáveis em bolsas e bolsos, editáveis, com escolhas de conteúdo e conteúdos intermináveis - e repetitivos, virais, sobretudo mutantes. 

Pois vem a Ciência e nos informa - ao menos parte da comunidade científica - de que o apego a, ou até vício nestas telas está nos emburrecendo. Testes de QI têm mostrado isso.

A tendência do mundo sempre foi esta: conforme chegavam novas tecnologias e possibilidades de pensamento e comportamento, formavam-se gerações mais inteligentes ou espertas que as anteriores. No entanto, os millenials, a geração mais recente, nascida totalmente mergulhada na Era Digital e na Era das Telas, têm apresentado Q.I. mais baixo que pessoas da geração anterior, em geral, em pesquisas realizadas em várias partes do mundo.

Você me pergunta: que pesquisas? Que testes? Inúmeros. Basta pesquisar: opiniões de especialistas, cientistas, médicos, psicólogos. Pais observadores. Na Internet, nossa grande fonte de informação e de "vida" hoje. 

Mas eu gostaria de voltar às crianças - e adultos - "dominados" pelas tecnologia digital das telas. Muitos pais preferem dar telas aos filhos a seu escasso tempo. Além disso, da mesma maneira, muitos pais e adultos em geral se apegam demais a redes sociais, jogos, a todo tipo de informação, praticamente infinita, das telas conectadas à Internet. 

Lembro-me de uma foto que tirei, certa vez, com quatro dos meus sete sobrinhos, mais seus pais, os seis na sala, todos diante de uma tela de celular - uma tela para cada um. Até mesmo os gêmeos, contando com cerca de dois anos de idade. 

Não é que eu queira demonizar a tecnologia. As telas podem ajudar na inteligência e no desenvolvimento do ser humano, por exemplo, nas áreas de Educação e Saúde, além do necessário entretenimento e da interação - quando não maléfica - nas redes sociais. Não; não quero ser Ned Ludd ou um de seus asseclas, que saíam quebrando máquinas e fábricas na Inglaterra na década de 1810, reagindo ao "perigoso processo de industrialização", no que se constituiu o ludismo. 

Apenas acho que, à medida que avançamos tecnologicamente, com reflexos em todas as esferas da sociedade e da nossa vida pessoal, precisamos refletir. As mudanças ocorrem cada vez mais rápido, é necessário saber e fazer várias coisas ao mesmo tempo. Isso tem provocado, em milhões de pessoas, crises de ansiedade, estresse, burnout (excesso de trabalho), pânico e depressão, redundando em adoecimento mental em massa, consultórios psiquiátricos e de psicólogos lotados. E o pior: o aumento substancial nos casos de suicídio - ao menos no Brasil e na América Latina. 

As telas apenas nos mostram algo óbvio: tudo em excesso é "veneno". Todo comportamento extremista faz mal. Todo exagero é vício, e todo vício é prejudicial. O vício em telas, que é capaz de influenciar nosso cérebro - comportamento, pensamentos e sentimentos - é apenas uma amostra disso.

Então, gostaria de pensar na importância da moderação com as telas, redes sociais e Internet, e a de nossos filhos. E gostaria de deixar uma questão: se as máquinas tendem a imitar o que fazemos, substituindo-nos, no que muito influi a Inteligência Artificial, mais do que nunca, não tendemos a nos tornar como as máquinas - menos humanos? Esta é uma constatação de muitos especialistas, a qual citei no início do conteúdo: as telas estão nos tornando menos humanos.

Menos humanos... menos humanizados, humanitários, mais frios, calculistas, embora menos inteligentes porque mais mecânicos? Mais extremistas, porque menos existencialistas? 

Não quero quebrar telas, tampouco vê-las nos quebrar a nós próprios, nossos filhos ou queridos. "Fazei tudo com moderação", já dizia Jesus Cristo, e isso não é só para quem é cristão (Cristo não fundou religião, como muitos pensam). A tecnologia tem, sim, nos tornado mais "robóticos". Não bastam Direitos Humanos no papel, milhares de "ensinamentos" e reflexões nas telas (todo mundo parece saber tudo, hoje em dia): falo no dia a dia. 

Vamos usar mais vezes uma tela importante e muito antiga? O espelho: e não apenas para nos ver por fora, mas para nos perguntar, volta e meia, quem somos de verdade, o que queremos e não queremos, o que estamos fazendo e o que estamos fazendo a nossos filhos e a quem amamos. A tela que, de fato, nos reflete, é a mais simples e a mais importante. Mas você precisa arcar com o desafio de se enfrentar sem medo no seu espelho, antes tentar se projetar e enxergar em outras telas. 

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