Relato de uma mãe em seu surgimento

Tornar-se mãe!

Por Cláudia Zambrana

 A maternidade em si é um assunto interessante e com diversas ramificações. E tornar-se mãe não é algo tão simples e mágico como se imagina. Devido a nossa sociedade e seus ensinamentos, existe aquela ideia fixa de que toda menina já nasce para ser mãe, e não é bem assim.

Essa ideia errada da maternidade muitas vezes se inicia nas influências passadas por brincadeiras na infância. No entanto, nem toda mulher deseja ser mãe ou talvez não tenha isso em seus planos.

O fato de a sociedade de forma direta ou até vezes de forma indireta cobrar essa posição materna da mulher, provoca uma cobrança interna que poderá atrapalhar esse momento que na realidade não é uma obrigação.

Ter um filho pode ser visto de várias formas, dependendo da posição social e momentânea da mulher que está passando por essa experiência. E pode ter certeza que decidir ser mãe é bem diferente do que decidir ter um filho.

Precisamos compreender que tornar-se mãe não ocorre da noite para o dia. Na verdade é uma transformação tão complexa e profunda que somente através da experiência do dia a dia é que uma mãe pode nascer.

Quando eu tive minha primeira filha, não imaginava como minha vida mudaria e o que eu teria que fazer. Na verdade ocorreu uma grande metamorfose e não tinha a menor ideia da mulher que iria surgir após toda aquela transformação. 

Eu até imaginei que algumas coisas mudariam, e que teria que cuidar de um novo ser que surgia, que meus horários livres seriam diferentes. Mas, como era completamente inexperiente, pois nunca havia cuidado de um bebê na minha vida, não tinha uma ideia precisa de como minha vida mudaria.

Logicamente, procurei me informar em blogs e sites para tentar me especializar como mãe, considerando que leituras poderiam fazer essa mágica acontecer. E estranhava um pouco quando lia relatos de gestantes que se emocionavam a cada ultrassom, porque apesar do meu corpo que mudava a cada semana, eu ainda me sentia completamente livre e não conseguia me enxergar como mãe. Foi então que percebi que cada experiência é única e individual.

Recordo de ter ido a um curso oferecido gratuitamente para mães, focando principalmente nas mães de primeira viagem. E lá pude conhecer mulheres que assim como eu buscavam essa ligação que nem sempre ocorre ao descobrirmos sobre a gravidez. Assim como também conheci mamães já experientes que estavam na segunda, terceira e algumas até na quarta gestação. E essas mães experientes estavam participando para dar apoio e fazer seus relatos sobre o que passaram.

Praticamente todas estavam com aquele brilho no olhar, de algo novo, sublime e único acontecendo. Foi lá que ouvi algo que mexeu profundamente comigo: uma professora do curso perguntou às mulheres que ali estavam, todas futuras mamães, sobre o que elas achavam sobre maternidade, sobre o ser mãe.

E ouvi as mais belas e profundas frases que poderia sobre maternidade. Todas muito poéticas, e retratavam um conto de fadas.

Uma mãe, que já havia tido dois filhos e estava em sua terceira gestação, levantou-se e falou sobre sua experiência. “Ser mãe é não ser mais dona do seu corpo, é ter estrias, seios deformados, dores na coluna, noites em claro, e nos intervalos disso tudo é se sentir completamente plena ao pegar seu filho em seus braços. É perceber que na verdade somos o transporte para a vida.”

Quando ela falou aquilo, eu percebi o quanto minha vida mudaria, mas que tudo aconteceria aos poucos, e de forma natural e que não poderia me cobrar sentir tudo o que eu lia nos textos sobre maternidade.

Eu não me sentia preparada para ser mãe, mas era algo que não poderia fugir, pois a transformação estava acontecendo dentro de mim e a cada dia me aproximava do inevitável. Eu me tornaria mãe.

Percebi que o fato de estar grávida não me tornava mãe, isso era apenas uma preparação física do meu corpo. As mudanças hormonais, minha barriga que crescia e se adaptava para permitir o bebê crescer, os meus seios que já estavam inchados para produzir o leite, mas eu ainda não me sentia mãe.

Foi então que percebi, que na verdade, o meu problema era que ainda não tinha me decido em me tornar mãe. E com certeza essa decisão é que mudaria a minha visão e o que iria acontecer nas próximas semanas. Então, comecei a me preparar internamente para essa situação que faria parte eternamente da minha vida.

Porque diferente de um trabalho, ou livro que inicio e finalizo, a maternidade nos acompanha para sempre

A decisão de se tornar mãe, deve ser tomada com muito cuidado, e pelos motivos certos. Quando uma mulher decide tornar-se mãe, ela está abrindo mão da sua individualidade, e está escolhendo mudar sua vida em todos os sentidos. 

Principalmente por ainda vivermos em uma sociedade que busca essa mudança brusca apenas da mulher, como se o pai não tivesse as mesmas obrigações sobre o nascimento do bebê. Claro, que existem exceções, com pais que corroboram muito nos cuidados e responsabilidades.

Tornar-se mãe, em meio aos medos, inseguranças e autocriticas impostas pelas cobranças da sociedade não é fácil. As vezes esses sentimentos te tomam conta de tal forma que  impedem de conseguir perceber o acontecimento único e sublime que realmente está se passando. Afinal, como aquela mãe falou no curso que participei: “Somos o transporte para a vida”.

Mas o que pretendo dizer com isso tudo?

Primeiro gostaria de frisar que nem toda menina nasce predestinada a ser mãe, assim como muitos homens também não nascem para serem pais. E a sociedade costuma condenar essas pessoas com comentários inadequados, porque de alguma forma, até historicamente, a mulher que se torna mãe é vista dentro de um modelo padrão aceito socialmente.

Existe um grande problema com esse fato imposto pela sociedade, pois a maternidade deveria ser uma condição de liberdade do corpo e da vontade feminina. Existem muitas mulheres que optam hoje por não serem mães e são felizes, porque elas foram livres para fazerem suas escolhas e são conscientes do que querem em suas vidas, tomaram uma decisão baseada em sua experiência pessoal e assumiram essa decisão. Já ouviu essa frase? “meu corpo, meu templo”. Acho que isso fala tudo...

Já, o fato de você como mulher não se sentir preparada para a maternidade, e ainda sim optar por ser mãe, tenha calma e não se cobre a respeito dessa situação, porque aos poucos você se tornará mãe... Não nascemos mães, e sim nos tonarmos mães.

Outro detalhe importante que toda mãe ou pai deve saber antes de decidir ter um filho é que achar espaço para seus interesses individuais no novo ser que irá surgir com a maternidade será difícil, mas não impossível. Basta não ter uma cobrança excessiva da maternidade perfeita, pois ela não existe.

O adequado é reaprender a organizar o seu tempo, suas escolhas, e não esquecer dos objetivos pessoais, porque se tornar mãe não pode ultrapassar a mulher existente. As duas condições “mulher e mãe” devem conviver de forma igualitária, para que a maternidade não se torne desgastante.

Deve haver uma cumplicidade da sociedade e não uma cobrança demasiada em relação à mulher e ao se tornar mãe. 

Além do mais o que em minha opinião é mais importante sobre a maternidade é que devemos ter a consciência que não pode ser uma reprodução inconsciente, mas sim algo que deve ser muito bem pensando e analisado antes de acontecer. Não pode ser apenas um ato por pressão social e sim um querer ser o “transporte para outra vida” e lembra-se que para sempre você de uma forma ou de outra é que estará dirigindo e guiando esse pequeno ser.

Cláudia Zambrana - Foto divulgação

Cláudia Zambrana é escritora, advogada, estudante de psicologia,  mãe de três e casada. Gosta de escrever sobre os mais diversos temas, sempre com uma história diferente e afetiva, é categórica em afirmar que nada acontece por acaso. Tem uma visão transparente e livre para falar o que pensa e o que sente.

   *Saiba como publicar, anunciar ou divulgar na próxima edição da revista Projeto AutoEstima, com dicas sobre saúde, beleza, gastronomia, estética, cultura, moda, maquiagem, esporte, literatura e bem estar.

Comentários